Vem aí o livro “Sou do Agreste, mas amo o Sertão” da brilhante repórter Hylda Cavalcanti, há muitos anos residindo em Brasília e cobrindo para vários órgãos de imprensa e assessorias o que acontece no dia a dia da política e do Judiciário.
“Na verdade, Tamanini, digo que sou de Vertentes, no Agreste setentrional, porque é a terra do meu pai, adotada pela minha mãe, e onde vivi até os 12, ou 13 anos. Mas eu nasci no Recife. Minha mãe é recifense da gema. Meu pai de Vertentes. Eles se conheceram na faculdade, casaram e moraram no Recife até meus 5 anos. Como casaram em 1965 e meu pai, que era comunista na época, passou por muitos perrengues nesse período – vivia sendo perseguido, trancou a faculdade já perto de se formar e foi trabalhar na iniciativa privada – meus pais optaram por se mudar para Vertentes. E lá está toda a família do meu pai”.
“Aí papai se estabeleceu na terra natal dele, que nunca tinha deixado de frequentar, para advogar. Até porque é onde sempre moraram meus avós e tios. Ele foi prefeito e só voltamos para Recife quando eu tinha uns 12 ou 13 anos”.
“As pessoas perguntam com frequência se eu e meu irmão somos de Vertentes. No final das contas, somos mesmo. Mas tenho hoje em mim, eu acho, tanto raízes internas do Recife, (que adoro, adoro de paixão) como de Vertentes, da questão familiar materna e paterna. Nos dois casos, é a coisa das famílias que vão se juntando numa só, das muitas histórias, dos laços tão grandes, de saber de onde a gente veio. É isso que um dia pretendo acabar de contar”.
“Em Pernambuco existe até hoje essa separação que é real: há o povo que nasce na capital, mas há o pessoal da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão. O pessoal do Sertão é o mais aguerrido, mais sofrido. São os sertanejos que lutam na seca bravia, a área mais árida do estado. Era no Sertão onde os famosos ‘coroneis’ chamavam mais atenção. O Agreste é a região da área da agropecuária em si, mas cresceu com muitos agricultores classe média também. E o pessoal da Zona da Mata, esses foram conhecidos durante um bom tempo como os verdadeiros ricos do estado, os donos de engenho de cana. Mas falo isso me referindo de forma bem genérica à história pernambucana como um todo. Os trabalhadores braçais da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão sempre sofreram e, cada um ao seu modo, sempre trabalhou muito”.
“Minha bisa, avó da minha mãe, foi filha de um senhor de engenho, mas minha avó já não pegou tanto essa época de ‘fartura’. A bisa casou com um comerciante e minha avó com um professor de português. Tiveram uma vida de classe média, no Recife. Já os dois bisos do meu pai eram fazendeiros. Meu avô paterno, que ficou órfão quando criança, precisou trabalhar muito para manter a família. Tinha uma terrinha e sempre viveu como classe média também. Os filhos, incluindo meu pai, se formaram e foram morar no Recife ou ficaram entre Recife e Vertentes. Quer dizer, uma mistura de tudo. Minha família tem holandeses e portugueses – da parte da minha mãe. E portugueses de novo, índios e negros – da parte do meu pai”.
Hylda já começou, apesar do tempo escasso, o projeto de coleta de dados e pesquisa para o que virá a ser um grande livro da família. “Quero contar toda a trajetória dos pernambucanos por meio das histórias da minha família, os Cesse Pimentel de Meira Lima – da parte de mamãe – e os Cavalcanti de Albuquerque – da parte de papai. Mesmo fazendo a pesquisa lentamente, as pessoas começam a me ajudar mandando documentos e fotos antigas dos tios e bisos”. Hylda já tem muita informação arquivada.
Hylda só tem uma dúvida: se o lançamento do livro “Sou do Agreste mas amo o Sertão” será em Recife ou Vertentes.
História anterior
próxima história