Eu e o Emerson Sousa fomos cobrir a viagem do então presidente José Sarney à China. Saímos de Brasília, seguimos para o Rio de Janeiro, dali para Los Angeles, Tóquio e finalmente Pequim. Foram quase 36 horas de vôo de Brasília até à capital japonesa nas asas da saudosa Varig. O trecho final foi feito em um avião de bandeira chinesa. Chegamos à noite em Pequim. Depois de deixarmos as malas no hotel, saímos para jantar. Estávamos “mortos” de fome. Entramos em um restaurante nas proximidades do hotel. O garçom só falava chinês. Pedimos com muita dificuldade o cardápio. Não preciso dizer que era tudo em chinês. O jeito foi apontar o dedo para um dos ítens do cardápio e rezar. A fome aumentava a cada minuto. Finalmente, o garçom chegou com a nossa comida. Duas pequenas caixas. Abri e … (O Emerson Souza vai contar o restante dessa história. Vai Careca!!!!!
O relato é do meu velho amigo Emerson Souza, o popular Careca. Um grande repórter e uma das figuras mais divertidas que conheci na vida:
A expectativa era tao grande quanto a fome. No restaurante, pelo avancado da hora, soh tinha nos e um chines gordo em uma mesa proxima. A porta da cozinha abriu e surgiram dois chineses. O primeiro destampou uma travessa pequena de inox e colocou no prato do Tamanini graudo camarao. Mas, um soh. Nada de acompanhamento. Tamanini ateh pensou em reclamar. Desistiu ante o misterio que envolvia o meu pedido
Para me servir vieram dois chineses, o que aguçou o interesse de Tamanini. Eles faziam uma cara boa para mim, como se aprovassem o pedido de um estrangeiro por tamanha iguaria da cozinha chinesa. Com dois chineses enormes, um de cada lado da mesa, achei que tinha sido premiado com o melhor da casa. O primeiro abriu a travessa e – quase como um menino criado em velório – esbugalhei os olhos ao me deparar, estarrecido, com a porra de pimentão pálido nadando sobre um caldo pegajoso. Me lembrei na hora da Lingua Negra surgida anos atras na praia do Leblon. E o pior, não suporto pimentão cozido.
A fome aumentava junto com a expectativa do conteúdo da caixinha prateada nas mãos do outro chinês. Quando ele abriu na nossa frente, só não saí dali correndo por medo de acharem que eu estava dando um beiço e me prenderem. Um pedaco de carne cheia de nervos que mais parecia um cérebro de macaco me espiava lá de dentro. Um caldo escuro e pegajoso dava um ar de fossa séptica à minha iguaria.
Tamanini comeu o camarao e ali ficou com a cara de menino pidão de parada de ônibus interestadual. Eu nao comi nada embora tenha morrido em 120 dolares. Fomos embora e, ao passar pelo chinês gordo, único cliente além de nos, a raiva aumentou. O danado estracalhava um punhado de camarões graúdos fritos que deixavam um cheiro.no ar.
Com os bracos tive de conter Tamanini que ameaca atacar o prato fundo de camaroes do cliente. Morremos em 220 dólares por um camarão e duas caixinhas de sei lá o que diga