No dia 21 de agosto de 1988 era repórter setorizado da Rádio Nacional de Brasília no Palácio dom Planalto. Neste dia viajei de Brasília para Juazeiro do Norte (CE) para cobrir, no dia seguinte, a visita do então presidente da República, José Sarney à cidade de Padre Cícero. Sarney foi a Juazeiro do Norte inaugurar o Museu de Padre Cícero. Ao chegar no pequeno aeroporto encontrei sentado e sozinho, no salão de embarque, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Não perdi a chance. Sentei ao seu lado e pedi uma entrevista. Sempre solícito, Luiz Gonzaga respondeu a todas as perguntas que fiz. Ao final da conversa, perguntei o que ele fazia ali. Ele disse que estava esperando alguns familiares que iriam leva-lo de carro para a cidade de Exu, onde nasceu e viveu muitos anos.
Ao chegar no hotel, peguei o telefone, fiz uma ligação a cobrar para a Rádio Nacional e avisei que tinha uma entrevista maravilhosa com o Rei do Barão. A entrevista foi veiculada no mesmo dia à noite, por volta das 23 horas, no programa ao vivo da apresentadora Gisele Neubarth, irmã da jornalista Leilane Neubarth, da Tv Globo. Com uma voz maravilhosa, Gisele deu muita vida à entrevista.
O lado negativo é que não guardei a fita com a entrevista. Não foi só essa. Fiz outras entrevistas importantes e, da mesma forma, não tive a preocupação em guardar a fita, como com o cantor Peri Ribeiro, filho da cantora Dalva de Oliveira com o compositor Herivelto Martins, no saguão de um hotel em Nova Iorque. Teve outra que fiz com um dirigente chinês ema Pequim – ele mandou até uma mensagem em mandarim para o Valter Lima (lembra Valter?) e que meses depois virou o homem forte do seu pais. Eu e Valter não guardamos a fita. É triste mas é a mais pura verdade. Tinha na ocasião apenas 33 anos.
Aécio Amado
Recebi do meu amigo sergipano e vascaíno Aécio Amado a seguinte mensagem. Aécio foi chefe de reportagem da Rádio Nacional do Rio de Janeiro durante muitos anos. A redação funcionava no prédio A Noite na praça Mauá, no centro da cidade. Depois, trabalhamos juntos na Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto: “Parabéns, Tamanini. Grandes entrevistas se perdem porque, nas emissoras de rádio, muito poucas, ou quase nenhuma, valorizam a sua memória. Sempre defendi na Rádio Nacional do Rio, que se criasse um departamento de memória. Muita coisa se perdeu pela falta desse setor tão importante. Ainda hoje é assim, infelizmente”.
Segue Aécio Amado no seu triste relato: “Por exemplo, onde está a histórica discoteca da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com um acervo enorme de discos, do acetato ao vinil, de grandes cantores da música brasileira. Discos preciosos que contam a história das nossas mais belas vozes”.
Segue Aécio Amado
Tamanini, voltando ao assunto da falta de departamento de memória da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, recordo de uma belíssima entrevista que a repórter Elizabeth Sanz fez com o poeta Carlos Drummond de Andrade. Como você sabe, Drummond era muito tímido e raramente conversava com a imprensa. Mas foi proposta uma pauta de fazer um especial sobre Drummond e a incumbência foi dada a Beth. Ela com a sua insistência conseguiu o contato do poeta, ligou para ele e, com muito jeito, convenceu-o a dar a entrevista. Só que ele não estava no Rio de Janeiro e sim em uma cidade do interior fluminense, onde tinha uma tinha uma casa, que era um reduto de descanso. Beth, então, pegou um carro da Radiobrás e foi até lá. A repórter foi muito bem recebida pelo poeta. Apesar da timidez, ele deu uma longa entrevista a Elisabeth Sanz. Essa entrevista virou um especial, que foi ao ar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com muito sucesso. Infelizmente, por não termos um setor de memória, esse importante relato de Drummond se perdeu. Não sei se Beth guardou a fita com mais uma hora de conversa com Drummond.