Na minha adolescência ia ver os jogos do Fluminense e da Seleção Brasileira no estádio Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, duas vezes por semana. Aos domingos, na arquibancada e às quartas-feira na geral quando o jogo tinha pouco público. Afinal, a grana era curta e não podia esbanjar. Entrava sempre, quando ia para a arquibancada (a maioria das vezes) pela catraca localizada em frente à estátua do Belini. Sentava na arquibancada localizada à esquerda das cabines de rádio e somente quando o jogo era contra o Flamengo era obrigada a ir para o mesmo local mas do lado direito das cabines de rádio. Não lembro o dia e jogo que fui pela primeira vez no Maracanã. Um detalhe: subia e descia a rampa do estádio ao lado das torcidas do Flamengo, Vasco e Botafogo e nunca participei de nenhuma briga, mesmo meu time perdendo, ganhando ou empatando. No máximo, havia muita gozação: pó de arroz, urubu, bacalhau …
Durante os vários anos em que curti os jogos do Maracanã – em 1975 deixei o Rio de Janeiro e fui morar/trabalhar em Brasília – pude ver ao vivo craques como Pelé, Garrincha, Gerson, Rivellino, Felix, Manga, Jairzinho, Tostão, Zico, Carlos Alberto Torres, Ademir da Guia, Jairzinho, Dirceu Lopes, Wilton, Samarone, Carlos Alberto Pintinho, Zé Roberto, Kleber, Roberto Dinamite, Romário e tantos outros. Estava no estádio na despedida do Pelé da Seleção Brasileira, da despedida do Garrincha, no gol de mão do Wilton do Fluminense contra o Flamengo, no título tricolor de 1971, na perda do título da Libertadores em 2008 e em muitas datas históricas. Doente no dia, não pude ir ao Maracanã em 1969 quando o Rei Pelé marcou o milésimo gol contra o Vasco da Gama.
Uma partida especial que estava presente foi no dia 31 de agosto de 1969 quando o Brasil recebeu o Paraguai, no Maracanã, pela última rodada do Grupo B das Eliminatórias da Conmebol para a Copa do Mundo de 1970, no México. Era o time das ‘Feras do Saldanha’, cujo técnico João Saldanha havia montado uma equipe que encantava a todos os torcedores. Vencemos de 1 x 0, gol de Pelé. Além do Rei, a Seleção Brasileira, que tinha craques como Carlos Alberto, Gerson, Tostão, Jairzinho e Edu etc … O Maracanã estava abarrotado de gente. O borderô mostrava isso: oficialmente, 183.341 pessoas pagaram ingresso para ver a partida e este é, oficialmente, o recorde do Maracanã (que nunca mais será batido, diga-se) e o jogo de maior público da história da Seleção Brasileira em todos os tempos. Não dava nem para ir ao banheiro. Quem saísse do seu lugar, não voltava.
Não posso esquecer que assisti no velho Maraca, inúmeras vezes, meus ídolos de infância, Samarone, o Diabo Louro, camisa 10 do Fluminense e o ponta-direita Wilton, camisa 7 do tricolor das Laranjeiras. Cansei de tentar imitar as jogadas, os dribles desconcertantes do Wilton nas “peladas” mas era impossível. O Wilton jogava muito. Em 1975, cheguei a colocar uma faixa no alambrado do estádio: A torcida confia em Zé Roberto. Quem pintou a faixa foi meu saudoso pai, também tricolor de coração, Waldemar Henrique Tamanini, no playground do prédio onde morávamos na rua ministro Ramos Montero 51, na Selva de Pedra, no Leblon.
No dia 27 de junho de 1971, um domingo, estava no Maracanã ao lado do meu saudoso pai, Waldemar Henrique Tamanini. O Fluminense e o Botafogo jogaram a final do Campeonato Carioca. Ganhamos de 1 x 0, gol do ponta-esquerda Lula. O lance do gol deu o que falar. Meu pai estava ouvindo o jogo em um radinho de pilha. Ficou tão emocionado que atirou o rádio longe no momento do gol que garantiu o nosso título. Gritamos tanto que ficamos roucos durante vários dias. Saímos do estádio direto para o Hospital Silvestre, em Santa Teresa, para pegar minha saudosa mãe, Cely Passos Tamanini. Minha tia, Nélia Sandy Tamanini, estava hospitalizada e ela ficou com ela enquanto fomos para o Maracanã. Entramos no Silvestre cheio de talco jogado pela torcida tricolor. Uma festa.
Vi, também, ao vivo, o Fluminense ganhar, no dia 10 de junho de 1975, por 1 a 0, o Bayern de Munique, bicampeão europeu da época, em amistoso marcado pela estreia de Paulo Cézar Caju, reforço da Máquina Tricolor. Na mesma ocasião, em mais uma ação pioneira, o Time de Guerreiros se tornou o primeiro clube do país a estampar um patrocínio em seu uniforme. A marca em questão era da MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). Detalhe: fui das Laranjeiras para o estádio, e depois voltei, no ônibus da delegação do Fluminense pois era – e sou até hoje – amigo do ponta-esquerda Zé Roberto, Carlos Alberto Pintinho, os saudosos Zé Maria e Kleber (Bequinha). As partidas realizadas à noite tinham um colorido especial: antes do final do jogo os torcedores acendiam seus isqueiros e deixavam a arquibancada e as cadeiras iluminadas. Era emocionante.
O dia 4 de junho de 2008 foi um dos mais emocionantes da minha vida. Com quase 85 mil tricolores no Maracanã, o Fluminense conquistou pela primeira vez uma vaga na final da Libertadores. O clube garantiu a classificação após eliminar o Boca Juniors, que havia vencido a edição anterior do torneio. Depois do empate em 2 a 2 no jogo de ida, a equipe comandada por Renato Gaúcho venceu por 3 a 1 o duelo de volta, de virada. Já o dia 1 de julho de 208 foi o mais triste. Ao lado do meu pai, presenciei a derrota nos pênaltis para a Liga Deportiva Universitaria (LDU) e que deu ao Equador, o seu primeiro título na história da Copa Libertadores da América. A vitória equatoriana por 3 a 1, na cobrança de penalidades, diante de um Maracanã lotado e atônito, acabou com o maior sonho do Fluminense em seus mais de cem anos de história. Apesar de ter vencido no tempo normal por 3 a 1, a equipe carioca parou em três defesas do goleiro Cevallos nas cobranças.
Fui ao Maracanã – e levei a minha mulher Maria del Carmen Tamanini – no dia 1º de setembro de 2010 para assistir ao jogo Fluminense x Palmeiras. Logo em seguida, o estádio (para a minha tristeza) foi fechado para uma reforma ampla, geral e irrestrita. O Maracanã, que era um baita estádio de futebol, se transformou em um teatro. Muito triste. Gostava tanto do velho estádio que chegava mais cedo para assistir aos jogos preliminares. Vi, por exemplo, um jogo do Campo Grande. Um atacante desajeitado em campo fez três gols no time adversário. Era um desconhecido. Depois, passou a ser conhecido de todos como o Dario Peito de Aço. Neste jogo o Campo Grande escalou um goleiro baixinho que fez milagre em campo: Helinho.
As obras para a construção do estádio começaram no dia 2 de agosto de 1948, data do lançamento da pedra fundamental. A construção foi muito criticada por Carlos Lacerda, na época deputado federal e inimigo político do durante mandato do então General de Divisão e Prefeito do Distrito Federal do Rio de Janeiro, Marechal Ângelo Mendes de Moraes, pelos gastos e, também, devido à localização escolhida para o estádio, defendendo que o mesmo fosse construído em Jacarepaguá.
Ainda assim, apoiado pelo jornalista Mário Rodrigues Filho, Mendes de Morais conseguiu levar o projeto para frente. Na área escolhida, situava-se uma arena destinada à corrida de cavalos. A concorrência para as obras foi aberta pela prefeitura do Rio de Janeiro em 1947, tendo como projeto arquitetônico vencedor o apresentado por Miguel Feldman, Waldir Ramos, Raphael Galvão, Oscar Valdetaro, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro.
O projeto vencedor previa um estádio para 155.250 pessoas, sendo 93 mil lugares com assento, 31 mil lugares para pessoas em pé, 30 mil cadeiras cativas, 500 lugares para a tribuna de honra e 250 para camarotes. O estádio ainda contaria com tribuna de imprensa com espaço para vinte cabines de transmissão, trinta e dois grupos de sanitários e trinta e dois bares. No total, a área coberta do estádio atingiria 150 mil m², com altura total de 24m. As obras iniciaram-se em 2 de agosto de 1948, data do lançamento da pedra fundamental. Trabalharam na construção cerca de 1.500 homens, tendo se somado a estes mais 2.000 nos últimos meses de trabalho. Apesar de ter entrado em uso em 1950, as obras só ficaram completas em 1965.
Em seu projeto original, o Maracanã tinha seu formato oval, medindo 317 metros em seu eixo maior e 279 metros no menor. Media 32 metros de altura, o que corresponde a um prédio de seis andares, e a distância entre o espectador mais distante o centro do campo era de 126 metros. A cobertura protegia parcialmente as arquibancadas em toda a sua circunferência. Na cobertura foram montados os refletores, que funcionavam a vapor de mercúrio.
Sua inauguração deu-se com a realização de uma partida de futebol amistosa entre seleções do Rio de Janeiro e São Paulo no dia 16 de junho de 1950, vencida pelos paulistas por 3 a 1. O meio-campista da equipe carioca Didi, do Fluminense, foi o primeiro autor de um gol no estádio e o goleiro Osvaldo Pisoni foi o primeira a levar um gol.
Na Copa do Mundo FIFA de 1950, intenção principal para a construção do estádio, abrigou oito jogos da competição e onde ocorreu a primeira partida oficial do estádio, em 24 de junho, com vitória do Brasil sobre o México por 4 a 0, com dois gols de Ademir, um de Baltasar e outro de Jair Rosa Pinto. O jogo contou com a arbitragem do inglês George Reader. A Seleção Brasileira disputou no Maracanã cinco partidas, de seis durante toda a Copa. Na partida final, foi registrado oficialmente o público recorde de 199.854 torcedores presentes (173.850 pagantes). Nesta decisão, o Brasil foi derrotado de virada por 2 a 1 para o Uruguai. A derrota em solo nacional ficou marcada na história do povo brasileiro, sendo conhecida popularmente como o Maracanazo.
Até às reformas realizadas na década de 2000, a medida do gramado era de 110 por 75 metros. Havia um fosso que separava o campo das cadeiras inferiores que media três metros de profundidade com bordas em desnível. O acesso ao gramado dava-se por meio de quatro túneis subterrâneos que começavam nos vestiários. Existiam cinco vestiários no estádio, sendo utilizados normalmente apenas três, um para cada time que disputa uma partida de futebol e outro para a arbitragem.
Depois de uma ampla reforma ocorrida em 1999, visando a realização do Mundial de Clubes FIFA de 2000 no Brasil, o estádio teve sua capacidade reduzida para 103.022 pessoas, pois foram instalados assentos individuais no anel superior. Por causa das mudanças, o estádio deixou de ser o maior estádio do mundo, sendo capaz de receber menos torcedores em relação ao Estádio Azteca, no México.
O Maracanã ficou fechado entre abril de 2005 e janeiro de 2006 para obras visando à instalação de cadeiras em todo o seu interior e a realização dos Jogos Pan-americanos de 2007. Com isto, foi realizado o rebaixamento do nível do campo e implantação de cadeiras no lugar da antiga “geral”, área mais próxima ao campo onde os espectadores assistiam às partidas em pé. Além de ocupar o setor da geral, as novas cadeiras expandiram o conhecido “setor das cadeiras”, existente atrás da geral.