O capixaba de Cachoeiro de Itapemirim – conterrâneo do rei Roberto Carlos – o jornalista Antonio Carlos Campos, mais conhecido pelo apelido de Bininha, conhece como ninguém os bastidores de Brasilia e do Espírito Santo. A historia abaixo é maravilhosa.Conta Bininha:
Guaçuí é uma pequena cidade do Espírito Santo, situada na região serrana do estado, em plena Mata Atlântica. Um lugar onde há muitos animais silvestres, inclusive veados. Tem uma história interessante, quer ver ?
Antigamente, era distrito do município de Alegre, bem pertinho. O primeiro nome de Guaçuí foi Veado, certamente por causa da existência de tantos desses bichos naquelas paragens. Aliás, a energia elétrica chegou ali trazida pela Companhia de Eletricidade Alegre Veado.
Emancipado do município de Alegre em 25 de dezembro de 1928, o distrito de Veado virou cidade e manteve seu polêmico nome. Fica a 50 quilômetros da serra do Caparaó, cujo ponto culminante é o Pico da Bandeira, a quase 3 mil metros acima do nível do mar e até algum tempo o lugar mais alto do Brasil.
Embora gente pacífica, seus habitantes não se conformavam com o nome da cidade. Muitos se constrangiam ao responder onde moravam e, ao dizer o seu gentílico, eram motivo de galhofa – quem nasce em Veado, o que é?
Começou um movimento para alterar esse nome. A comunidade pressionou o prefeito a solicitar a mudança ao IBGE alegando os motivos óbvios. Meses depois, cumpridos os trâmites legais e burocráticos, a cidade passou a chamar-se Siqueira Campos. Siqueira Campos?,estranhavam alguns desinformados. Quem era?
Logo ficaram sabendo que o novo nome homenageava Antônio de Siqueira Campos, militar e um dos líderes dos chamados tenentesda revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. Um dos “18 do Forte de Copacabana”, exilou-se posteriormente no estrangeiro e participou da épica Coluna Prestes. Morreu na queda de um avião nas proximidades de Montevidéu, no Uruguai, e deixou uma legenda de audácia e heroísmo.
Pois bem, tudo corria em paz na cidade agora chamada Siqueira Campos, até surgir inesperado problema que provocou viva indignação na família do homenageado. Um problema de ordem postal, veja você.
Como naquele tempo ainda não havia sido instituído o Código de Endereçamento Postal (CEP) pelos Correios, as pessoas passaram a expedir correspondência para a cidade identificando assim o destinatário:
Ilmo, Sr.
Fulano de Tal
Rua Tal, número Tal
Siqueira Campos (ex-Veado)
Espírito Santo
Ex-Veado! Positivamente, pegava muito mal para a memória de tão viril militar. A família, revoltadíssima, exigiu nova mudança. Não foi fácil nem rápido. O processo se arrastou com exaltadas discussões no plenário da Câmara Municipal, em debates envolvendo grupos familiares e religiosos, irados membros do TFP, senhoras apreensivas e perplexas.
Ao que se saiba, os poucos gays que, na época, já haviam saído do armário, embora estivessem a favor da manutenção da explicação postal, não criaram maiores problemas.
Afinal, pacificados os ânimos e com a promessa do IBGE de atender ao pedido de nova mudança do nome, a cidade aguardou a decisão. Ela veio. Siqueira Campos passaria a chamar-se, doravante, Guaçuí.
Mas o que significava Guaçuí, todos se perguntavam nos bares e esquinas da cidade. Ninguém sabia, até que um sujeito curioso sobre a origem das palavras consultou bons compêndios e trouxe a resposta.
Guaçuí, em tupi, quer dizer veado grande.
Hoje, a vida segue mansa na “Pérola do Caparaó”, ninguém mais reclamou…