O projeto que criou a já idosa capital da República Federativa do Brasil (62 anos), foi desenvolvido por um arquiteto francês nascido em Toulon (Lúcio Costa) em uma cobertura de um prédio em frente ao mar no bairro mais nobre do Rio de Janeiro, o Leblon, cujo avenida leva o nome de um ex-presidente e vice-presidente da República nascido no interior de Minas Gerais (Delfim Moreira 1212), e a pedido de um presidente da República que era médico cirurgião em Diamantina, Juscelino Kubistcherk. Além disso, a capital federal teve a participação direta nos mil dias de construção da cidade de outro arquiteto, de ideologia de esquerda, nascido no Rio de Janeiro, mas que estudou e trabalhou muitos anos na Franca e nos Estados Unidos (Oscar Niemeyer).
Em 21 de abril de 1960, após mil dias de construção, o presidente Juscelino Kubitschek, mineiro de Diamantina, inaugurou a nova capital, construída no formato de um avião, e instalou o Distrito Federal. A primeira Constituição da República, de 1891, estabeleceu legalmente a região onde deveria ser instalada a futura capital, mas somente em 1956, com a eleição de JK, iniciou-se a construção de Brasília. No dia 2 de outubro de 1956, em campo aberto, o presidente Kubitschek assinou o primeiro ato no local da futura capital, lançando então a seguinte proclamação: “Deste planalto central desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”
No mesmo ano iniciaram-se os trabalhos de construção. Formou-se o Núcleo Bandeirante, onde se permitia maior liberdade à iniciativa particular e foi batizado com o nome de “Cidade Livre”. Especialmente do nordeste, Minas Gerais e Goiás, chegaram levas de trabalhadores, apelidados de candangos. O arquiteto Oscar Niemeyer, natural do Rio de Janeiro, foi escolhido para chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura, sendo encarregado de abrir concurso para escolha do plano-piloto; assim, em março de 1957, uma comissão julgadora constituída por sir William Halford, Stano Papadaki, André Sive, Oscar Niemeyer, Luís Hildebrando Horta Barbosa e Paulo Antunes Ribeiro escolheu o projeto do arquiteto francês, nascido em Toulon em 27 de fevereiro de 1902, Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima Costa, mais conhecido como Lúcio Costa.
Devido às atividades oficiais de seu pai, o almirante Joaquim Ribeiro da Costa, morou em diversos países, o que lhe rendeu uma formação pluralista. Estudou na Royal Grammar School em Newcastle, no Reino Unido, e no Collège National em Montreux, na Suíça. Retornou ao Brasil em 1917 e, mais tarde, passou a frequentar o curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que ainda aplicava um programa neoclássico de ensino. Lucio Costa se formou Arquiteto pela Escola em 1924. Apesar de praticar uma arquitetura neoclássica durante seus primeiros anos, rompeu com essa formação historicista e passou a receber influências da obra do arquiteto franco-suíço Le Corbusier.
Após a Revolução de 1930, Lucio Costa foi indicado por Rodrigo Melo Franco de Andrade para assumir a direção da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) com a missão de renovar o ensino das artes plásticas e reformular o curso de arquitetura. Sua passagem como diretor da ENBA durou apenas até setembro de 1931. Apesar do pouco tempo no cargo, seu tempo como diretor e professor da instituição marcou profundamente os caminhos da arte e da arquitetura brasileira. Entre os seus alunos na escola de arquitetura estavam Luís Nunes, Jorge Machado Moreira, Ernani Vasconcellos, Álvaro Vital Brazil, Oscar Niemeyer e Milton Roberto. Todos tornaram-se grandes expoentes da arquitetura brasileira.
Em 1957, ao ser lançado o concurso para a nova capital do país, Lucio Costa enviou ideia para um anteprojeto, contrariando algumas normas do concurso. De fato, apesar de apresentar uma concepção urbanística semelhante à maioria dos concorrentes, o projeto de Lúcio Costa foi o único que conseguiu compreender o significado político de uma nova capital para o governo Kubitschek e para o contexto brasileiro da época: o projeto de Lúcio Costa venceu por quase unanimidade (apenas um jurado não votou nele), sofrendo diversas acusações dos concorrentes. Desenvolveu o Plano Piloto de Brasília e, como Niemeyer, passou a ser conhecido em todo o mundo como autor de grande parte dos prédios públicos.
O projeto de Lúcio Costa punha em prática os conceitos modernistas de cidade: o automóvel no topo da hierarquia viária, facilitando o deslocamento na cidade (apesar disso em seus projetos ele também criou a Estação Rodoferroviária de Brasília), os blocos de edifícios afastados, em pilotis sobre grandes áreas verdes. Brasília possui diretrizes que remetem aos projetos de Le Corbusier na década de 1920 e ainda ao seu projeto para a cidade de Chandigarh, pela escala monumental dos edifícios governamentais.
Em 1969, Lúcio Costa foi convidado pelo então governador do Estado da Guanabara, Negrão de Lima, para desenhar o Plano urbanístico da Barra da Tijuca. De inspiração modernista, o plano previa largas avenidas, construções baixas como nas superquadras de Brasília, e preservação dos mangues e restingas da região. Com o tempo, pressões do mercado imobiliário desvirtuaram o plano original de Costa.
Lucio Costa esteve envolvido diretamente na demolição do Palácio Monroe, localizado na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Palácio abrigou o Senado Federal entre 1925 e 1960. Construído em 1904 para ser o pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, em Saint Louis, Estados Unidos, o edifício havia sido desmontado após a exposição e remontado no Rio de Janeiro, onde passou a ser a sede do Senado Federal.
Durante as obras de construção do Metrô do Rio de Janeiro nos anos 1970, o palácio foi tombado como patrimônio histórico pelo Governo Estadual e foi pedido que o traçado do metrô fosse desviado para não afetar as fundações do edifício. Entretanto, uma campanha mobilizada pelo jornal O Globo, com o apoio de Lúcio Costa e outros arquitetos modernistas, foi reivindicada a demolição do Palácio Monroe, sob a alegação de juízo estéticas e de que este atrapalhava o trânsito. Em seu parecer, Lúcio Costa afirmou que o Palácio Monroe era uma “presença estorvante já não se justifica”. O então presidente da República, Ernesto Geisel decidiu por não conceder o decreto federal de tombamento, e em 1976 o palácio foi demolido. No local do edifício foi construída a Praça Mahatma Gandhi.
Lucio Costa morreu no Rio de Janeiro em 13 de junho de 1998, aos 96 anos. O arquiteto costumava dizer que, apesar de ter nascido na França, ninguém era mais brasileiro do que ele. Viveu até morrer em seu apartamento do Leblon (zona sul do Rio), na Avenida Delfim Moreira 1212, em uma manhã de sábado, de causas naturais. Ao seu sepultamento, no cemitério do Caju (zona norte do Rio), compareceram cerca de 300 amigos e admiradores. O governador do Distrito Federal na época, Cristóvam Buarque -depois de anunciar que pretendia dar o nome de Lucio Costa ao Eixo Monumental, a principal avenida de Brasília- teve de restringir sua homenagem ao arquiteto decretando luto oficial por três dias na capital do país. Por desejo de Lucio Costa, nenhuma rua ou avenida de Brasília deve ter nome de pessoas.