A história abaixo foi contada pela minha amiga gaúcha de Pelotas, mas há muito tempo radicada em Brasília, Celia Scherdien. Eu e Celia trabalhamos juntos na extinta EBN (empresa que nunca deveria ter acabado) e na sucursal do Correio do Povo, de Porto Alegre na capital federal. Repórter de muito cabedal ( diria, Very Well), Celia trabalhou ainda na Tv Globo, Folha de S.Paulo e no Congresso.
Vamos parar de bla, bla, bla. Conta logo guria:
Não tenho nenhuma égua com esse nome nas minhas baias”, ninguém publicou esse adjetivo à política dito por Figueredo.
Domingo, na redação da TV Globo em Brasília. Naquele tempo não tenho lembrança de se fazer plantão em portarias.
Tudo quieto. Então surge a pauta. Ir para a Granja do Torto fazer uma matéria com a dona Dulce Figueiredo, então primeira dama, que iria receber um seu retrato pintado pelo artista Alberi.
A reportagem seria para o Fantástico, show da vida ……. na época não tínhamos celular.
Às 14h em ponto eu e o cinegrafista estávamos no Torto. (não me lembro se o Elder ou Marquinho…). O motorista voltou com o carro para a sucursal da TV Globo.
Eu e o cinegrafista sentados aguardando o “Deus nos ajude para o que acontecer”. Tudo calmo. Nem os pássaros cantavam…Eu e o cinegrafista, nem um pio.
Nem barulho dos passos do Presidente João Batista Figueiredo, entrando na sala.
E, agora, era dona Dulce que eu esperava….
-Boa tarde, presidente!
– hummmm,
– Tudo bem?
– Nada, a festa aqui foi até às 5 da manhã.
(era tempo de festas juninas)
Eu precisava ser ágil para segurá-lo na sala e deixar o cinegrafista sentado para tentar uma conversa descontraída.
– Presidente, o senhor gostou de morar em Pelotas quando comandou o Batalhão, se me lembro, a sede ficava em frente a praça Coronel Pedro Osório?
Foi com esta introdução que a conversa passou das 20h e provocou correria na redação e nervos a flor da pele de Ibiapina, Toninho Drummond e Carlos Henrique…
E depois, expliquei que estava ali para fazer a reportagem sobre um quadro que dona Dulce iria receber. Ele desconversou.
– Tu conheces pôneis? (o tu deve ser lembrança de Pelotas)
Falei que não……. era a conversa que ele gostava – cavalos..
– Então vamos lá para as baias.
Vi os pôneis mais carinhosos e lindos. Os pequeninos roçavam os focinhos – não pareciam carentes- nas mãos do presidente.
Acompanhei-o na visita às baias.
Então ele enlaçou o Amir, seu cavalo favorito, e saímos a passear pela Granja….
Entardecia….. o cinegrafista disfarçou e ligou a câmera….até então desligada.
Naquela época, os jornais publicavam matérias sobre os cem dias de seu governo, mas o furo de reportagem seria sobre quem iria anistiar. Os presos políticos que estavam no Brasil e os também os exilados?
Então, nessa ordem, Amir, Figueiredo e eu…. o cinegrafista ficou a postos.
E perguntei se poderia gravar um balanço dos cem dias de seu governo.
Então….
Depois do balanço, perguntas bem leves para chegar ao meu furo -a anistia.
Qual a maior alegria…. maior tristeza….se gostava mais do Torto do que Alvorada….
– E a política, presidente?
– Não tenho nenhuma égua com esse nome nas minhas baias!
– Quem o senhor vai anistiar?
Nem sei se ficou irado ou levou um susto.
– Quem praticou crime de sangue não será anistiado.
PRONTO FOI O FURO…… voltei a redação e o Carlos Henrique perguntou:
-Você gravou? Perguntou sobre abertura, encerramento essas coisas…
– Não, não sabia a quantidade de filme que tínhamos.
A história não é tão antiga, mas era o tempo dos filmes nas câmeras.
E as redações de jornais e revistas foram para a TV Globo. Todos ouviram os “filmes” e a IstoÉ fez uma reportagem sobre como, em síntese, “se fazer de burra” para alcançar o objetivo-furo.
E foi o dia em que repórter não foi notícia, que era ou é ainda nossa máxima da profissão.”