Durante mais de 20 anos o baiano/carioca/brasiliense Emerson Sousa foi repórter setorista na Presidência da República para diversos órgãos de imprensa, maior parte desse tempo para a Folha de S.Paulo. Repórter brilhante, sempre atrás da notícia – não tinha computador, google, telefone celular etc … – Careca, como é carinhosamente chamado pelos colegas, revela abaixo uma história fantástica. Conta Emerson:
“No início do governo do presidente João Figueiredo, fui eleito presidente do Comite de Imprensa do Palácio do Planalto pela maioria dos votos dos 111 credenciados, profissionais brasileiros e correspondentes estrangeiros. Minha passagem pelo Planalto, além da cobertura do dia a dia, foi marcada por episódios de grande repercussão.
Alguns sempre lembrados por profissionais à época ali credenciados. A matéria sobre a descoberta de um aparelho de escuta escondido por detrás do lambri no gabinete presidencial, que causou um ambiente de total desconfiança na equipe palaciana foi apenas uma delas. Matérias mostrando as constantes divergências entre os ministros da Educaçao, Eduardo Portella, e o ministro-chefe do S N I, general Octávio de Medeitos que vetava todos os nomes indicados por Portella para sua equipe e que levou o novo ministro a dizer: “Eu não sou ministro, estou ministro” e outras reportagens apontando uma disputa entre o chefe do SNI, general Octávio de Medeiros, e o ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social, jornalista Said Farhat, por discordâncias na circulação dos jornalistas no Palácio do Planalto, culminaram com a demissão de Portella e de Farhat.
As matérias exclusivas da Folha e seus desdobramentos chegaram ao auge quando, durante um coquetel na Confederação Naciomal da Indústria, aproveitei um momento em que o general Moraes Rego se afastava da comitiva presidencial para interpelá-lo sobre como ocorrera a escolha de Figueiredo para suceder o presidente Geisel. Moraes Rego foi chefe do Gabinete Militar de Geisel. Aproveitando o ambiente de descontração, antes de chegar no ministro que, copo na mão, bebericava um uisquinho, chamei um dos garçons que serviam à comitiva e disse que o ministro gostava de um 18 anos, portanto, que ficasse por perto e mantivesse o copo dele sempre abastecido.
Foi o suficiente para Moraes Rego e outros membros palacianos se soltassem um pouco. Depois de falar sobre abobrinhas , comecei a puxar a conversa para a ascensão de Figueiredo. O ministro já mais descontraído começou a falar. No dia seguinte e no outro a Folha deu manchetes com as revelações de Moraes Rego. Eu estava na Redação quando atendi uma ligacao telefônica:
“Emerson?
“Eu,” respondi.
“É Moraes Rego”
“Sim, ministro”, respondi
“Você sabe onde estou” indagou e respondi que não. E ele: “Estou no Forte Apache preso. Você me deu dez dias de cadeia”.
Respondi que ele não tinha dito que a conversa era em “off” e acentuei a importância do fato para a história etc.
Ele, em momento algum foi deselegante ou grosseiro.
Esses fatos durante minha passagem pela cobertura palaciana fizeram com que o brilhante repórter da TV Globo, Heraldo Pereira, dissesse: “Esse Emerson é a pena mais perigosa de todos os setoristas do Palacio do Planalto”.