No próximo dia 23, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, completa 80 anos. Antes de ser tricampeão do mundo, no México, em 1970, Pelé foi barrado pelo então treinador da Seleção Brasileira, o jornalista gaúcho João Saldanha. Na época, muito novo o atual presidente da Academia Paranaense de Letras, Ernani Buchmann, iniciava a sua vida de repórter esportivo. Buchmann conversava muito com o próprio Saldanha e com o médico da Seleção Brasília, Lidio Toledo. Tempos atrás, já atuando também como advogado, Buchmann escreveu um livro muito interessante: “Quando o futebol andava de trem”- memória dos times ferroviários brasileiros.
Recebi, via WhatsApp, a seguinte mensagem do Buchmann: “A demissão do João Saldanha em 1970 ainda merece uma boa reportagem. A narrativa dele (de quem sempre fui fã e com quem conversei) x os fatos (foi demitido depois da Seleção precisar de um pênalti arranjado pelo árbitro Armando Marques a pedido do Antônio do Passo, em um jogo contra o Bangú em Moça Bonita). “Os detalhes do jogo e do pós jogo em Moça Bonita o Lídio Toledo me contou”. A esquerda sempre abraçou a versão de que o Saldanha foi mandado embora por motivos políticos. Não foi, o grupo já não estava com ele, Pelé que o diga, disse Buchmann.
E acrescentou Buchmann na sua mensagem: “Lídio me contou que depois do jogo com o Bangú o elenco foi dispensado para o fim de semana (o jogo foi sábado à tarde). Lá pelas dez da noite o Havelange chega no casarão de São Conrado, onde a seleção concentrava. Na sala viu o Saldanha capotado no sofá, a TV ligada e uma garrafa de whisky bem bebida no chão. Havelange pensou uns segundos e avisou a um membro da comissão técnica que estava por ali: “Amanhã vou resolver isso”. Saldanha foi demitido e Dino Sani convidado na segunda-feira. Recusou e na mesma tarde ou no dia seguinte, Zagalo assumiu.
O episódio em que o então presidente Emilio Garrastazu Médici tinha defendido a convocação do atacante Dario, o Dadá Maravilha, se deu meses antes. Não foi demitido por pressão militar, afirmou Buchmann.
E concluiu: “Vamos ver se a mitologia vence os fatos. Sem esquecer que Saldanha era mitômano, como João Máximo deixou claro em seu livro-perfil sobre o treinador”.