A história do bloco carnavalesco O Bloco das Piranhas é contada com muito humor pelo ex-ponta-esquerda do Fluminense e do Flamengo, José Roberto Lopes Padilha, o Zé Roberto:
“Desde que Moisés, o zagueiro Xerife, então jogador do Vasco, com a ajuda de alguns companheiros, entre eles o Alcir, Brito, Joel Santana e meio time do Olaria, saíram num sábado de carnaval, em Madureira, vestidos de mulher, que o Bloco das Piranhas entrou na vida de cada um de nós, boleiros.
Sabe aqueles caras que dormiam cedo, treinavam muito e no lugar de se divertirem em uma boate estavam concentrados a maioria dos sábados? Pois é… a forra vinha no carnaval. Quem ousaria marcar uma partida num sábado de carnaval?
Tanto tempo depois, ainda saímos de Piranhas, zoando os outros, irrecuperáveis, festeiras e distantes, agora, infelizmente com a reforma, muito mais distsntes da aposentadoria. Desde esta pedra fundamental na vida da gente,, ocorrida no começo da década de 70, só deixei de sair no bloco uma vez. Em 1975.
Pois justo no sábado de carnaval deste ano, Francisco Horta, nosso presidente, resolveu marcar um jogo no horário de sua saída. E logo no Maracanã, contra o Corinthians. Motivo? Apresentar Roberto Rivelino, um tricampeão que nem um torcedor da fiel queria mais ver desfilando com sua fantasia.
No banco de reservas, Piranhas assentadas e contrariadas, que desfilavam pelos gramados do Estádio Hercílio Luz, Brinco de Ouro da Princesa e Ressacada, que concentravam no Hotel das Paineiras, faziam excursões em vôos rasteiros, assistiram um desfile dos sonhos jamais sonhados.
Talvez nem Joãozinho Trinta apresentasse, à nossa frente, algo tão bonito e inusitado durante o carnaval. Porque ele, Roberto Rivelino, o destaque do enredo “A Máquina Tricolor” meteu três gols na goleada de 4×1. E na Comissão de Frente veio, logo depois, o título de campeão carioca.
Um carro alegórico exibia, a seguir, nossa nova concentração, um Hotel Nacional 5 estrelas novinho em folha de frente para o mar. E uma ala, com as asas azuis, vermelhas e brancas da Air France, mostrava nossa delegação partindo de Jumbo para disputar o Torneio de Paris.
No Paris St. Germain, o organizador da festa no Parc des Princes, vestindo o estandarte 10 como convidado, e destaque principal daquele enredo, Johan Cruyff, o maior jogador em atividade no mundo. Que assustara o mundo um ano antes, na Copa da Alemanha, com seu Carrossel Holandês.
E tinha o Porto, de Portugal, e o Atlético de Madri para fechar um quadrangular contracenando com Rivelino, Mário Sérgio, Marco Antonio, Edinho, Zé Mario, Gil….. e Paulo César Caju. Hoje, fico a imaginar o que os franceses pagaram por um lugar naqueles camarotes…
A partir daí, Piranhas comedoras de sardinhas, como eu, promovidas a bacalhau da Noruega, se espalharam valorizadas pelos clubes, do país e da Europa, com direito a um vinho do Porto à mesa.
Perdemos um desfile, mas nenhuma piranha daquelas, entre elas o Cléber, Zé Maria, Carlos Alberto Pintinho, Abel, Erivelto, Rubens Galaxe e Nielsen Elias, se esqueceu daquele sábado em que perdemos um desfile.
E passamos a conhecer melhor as Avenidas Marquês de Sapucaí que existiam pelos gramados do mundo.”