A história “Lembranças do Fla x Flu” é contada pelo meu amigo de longa data, José Roberto Lopes Padilha, mais conhecido como Zé Roberto, ex-ponta-esquerda da “Máquina” do Fluminense e depois no Flamengo. Zé Roberto, tricolor de coração como eu, foi envolvido em uma troca-troca de jogadores do Fluminense com o Flamengo pelo presidente na época do tricolor das Laranjeiras, o juiz de Direito aposentado Francisco Horta:
Não passei 7 dias ou meses jogando nas Laranjeiras. Foram 7 anos. Uma formação esportiva universitária inteira, dos 16 anos, quando ingressei nos infanto-juvenis, até a formatura, no Fluminense de Gérson, Assis, Ivair, Mazinho e Cafuringa. A seguir, a pós graduação, em 75, na Máquina Tricolor com Mestre Roberto Rivelino.
Sabia de cor as tonalidades dos vitrais franceses, os atalhos para entrar escondido e nadar nas piscinas, como treinamento, lógico! Havia decorado o ano em que levantamos a Taça Olímpica, pois foi o mesmo ano em que nasci, e para que lado correr para comemorar um gol ao lado da nossa torcida.
E como naquela época os juvenis e juniores faziam as preliminares, aquele lado direito das cabines de rádio e das tribunas ficou incorporado na cabeça da gente como a trilha da felicidade.
Daí acabei trocado pelo Doval e fui defender o Flamengo. E quando o Flamengo empatou o Fla x Flu de apresentação do primeiro troca-troca da história do nosso futebol, o jogo terminou 1×1, Zico, Junior, Rondinelli, Jaime, Geraldo e todos formados na Gávea correram pro lado da nação que sempre os acolheu. E eu fui comemorar para o lado da torcida contrária. Não havia GPS, valia o instinto, e três meses contra sete anos era até covardia cobrar a direção correta do meu instinto.
Quando dei por mim, um saco de pó de arroz atingiu minha cabeça. Estava sozinho debaixo de vaias, apupos, e não eram poucos. O Fla x Flu do troca-troca, tão badalado, levou ao Maracanã mais de 100 mil torcedores. Todo sem graça, dei meia volta e ainda levei um pito pelo caminho: os repórteres Iata Anderson e Mário Jorge Guimarães resumiram a ópera do engano: “Você não tinha nada que ir lá provocar os caras!”
Nem respondi. Voltei para a ponta esquerda pois seria na bola que teria que provar enganos e acertos. De passes e posturas, não há no futebol outra saída. Só tempo para revelar as razões do que estava sentindo.
Primeiro, que por não ter sido consultado sobre a troca, haviam roubado o amor da camisa de dentro de mim. Segundo, que sendo atleta profissional, pela primeira vez na vida, tinha que defender o clube que pagava o meu salário. E foi o que passei a fazer.
Um dia eles entenderiam que se corri para aquele lado, não foi a lucidez. Foi o coração.
E o coração tem razões, e uma cor a mais, que poucos, em qualquer Fla x Flu, conseguiriam entender.
Obs. às 17h00 estaremos participante da Live do Lance contando outras histórias. de nossa passagem pelos dois clubes. No Instagram @diariolance. como aperitivo do Fla x Flu.