“Exilado”, em 1968, de Belém, no Pará, para o Rio de Janeiro, porque andava metido com a esquerda festiva da Universidade Federal do Pará, a figuraça do advogado Sérgio Frazão do Couto, ex-presidente da OAB do Pará, ex-conselheiro federal da OAB e ex-integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), foi morar na rua Prado Junior, em Copacabana, o ponto mais frequentado na época por artistas, jogadores de futebol etc… Mas vamos deixar o Sérgio Couto contar os momentos que viveu intensamente na zona sul da cidade:
“A quadra da rua Prado Junior, entre a Viveiros de Castro e Av. Copacabana, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, era conhecida como a “alegria do bairro”. Na Viveiros, indo em direção à Princesa Izabel, havia um restaurante que era o “fim de noite” de todo o Rio boêmio: o Beco da Fome. Por ali dava de tudo. O Jô Soares era figura carimbada do pedaço. Na esquina com N.S. de Copacabana, havia um prédio antigo, onde os apartamentos eram “sala e quarto”. Os do último andar tinham uma sacada para a PJ. Eram “coberturas”. Um deles pertencia um jovem engenheiro de telecomunicações, filho de tradicional família de origem judia, de Belém do Pará, de onde éramos oriundi, e que estava de viagem marcada para Londres, onde iria fazer pós graduação.
A falta de sorte dele foi ter nos falado que estava querendo alugar a “cobertura”, para ajudar a pagar seus estudos na “terra da rainha”. Não demonstramos logo nosso interesse. Mas pensamos iguais: imagina só, mudar do pensionato para ir morar em uma “cobertura” em Copacabana.
Acertamos o aluguel, mesmo sabendo que não iríamos pagar nem o primeiro mês. Nossas mesadas estavam sempre vencidas com 3 (três) meses de antecedência, por conta dos chopps com as “princezinhas”. Quando assumimos a “cobertura”, descobrimos que nosso vizinho, “parede com parede”, era o carnavalesco Clovis Bornay. Um “boa praça” que, todas as noites, nos mandava um pedaço de bolo enquanto estudávamos. Temíamos ser cobrados pela gentileza, o que jamais aconteceu. Um dia, o porteiro do prédio nos falou que não sabia como o “seu Clovis” conseguia comer tanto bolo: todos os dias comprava dois na confeitaria defronte e não sobrava nada”.