Há quase 30 anos – no dia 20 de fevereiro de 1991 – o então presidente Fernando Collor visitou a Estação Antártica Comandante Ferraz. Eu era subsecretário de imprensa do Palácio do Planalto e fui designado pelo secretário de imprensa na época, Cláudio Humberto Rosa e Silva para coordenar todo o esquema de cobertura da imprensa da visita. Montei imediatamente a minha equipe com três profissionais: Evori Gralha, cinegrafista; Roosevelt Pinheiro (fotógrafo) e José Medeiros Santos (técnico de som).
Por que os três: havia poucas vagas no navio oceanográfico “Barão de Teffé”, onde ficamos alojados, e optei por levar jornalistas de texto cujos órgãos de imprensa tinham setorista permanente no Comitê de Imprensa do Palácio do Planalto. A viagem seria feita em avião da FAB: de Brasília para Punta Arenas, no Chile; de Punta Arenas para a Base de apoio russa na Antártica em um avião Hércules e da Base russa até à Base brasileira no “Barão de Teffé”. Sem o apoio do governo nenhum jornalista conseguiria chegar à Base brasileira.
Elaborei a lista, inclusive com o nome do repórter setorista da Folha de S.Paulo, Guttemberg. A Folha vivia às turras com o governo na época e a inclusão do jornal na lista não agradou as autoridades palacianas. De imediato, avisei que havia elaborado um critério para definição dos órgãos de imprensa e se a Folha fosse excluída, não iria coordenar a viagem. Tudo liberado, continuei meu trabalho. De toda a lista feita por mim, um único nome teve que ser trocado por solicitação da Tv Globo. A repórter escolhida, Marta Morosini, segundo a emissora, não era repórter de rede e por isso solicitavam à Secretaria de Imprensa que fosse incluída o nome da repórter Miriam Dutra. O pedido foi deferido.
Na Antártica, ficamos alojados no “Barão de Teffé”. Cada jornalista levou sua máquina de escrever, sua lauda e assim que eles terminavam de escrever o texto era repassado a mim em muita confiança. Transmitia imediatamente por fax o texto para a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto. O jornalista Aécio Amado, que trabalhava na Secretaria de Imprensa do Palácio por minha indicação, recebia o fax e entregava imediatamente para o repórter do jornal que estava no Comitê de Imprensa naquele momento. Ninguém mais do Palácio do Planalto tinha acesso às matérias.
As fotos eram feitas pelo Roosevelt Pinheiro, da Radiobras , e transmitidas de dentro da naviopara a empresa do governo em Brasília. As imagens de vídeo eram feitas pelo Evori Gralha, também da Radiobras, mas devido às impossibilidade de transmissão foram enviadas para as emissoras assim que ele retornou da viagem. O Medeiros, técnico experimentado de som, e requisitado à Radiobras pelo Palácio do Planalto, cuidava de transmitir o fax com o texto dos jornalistas. A transmissão ao vivo do discurso do presidente Collor, no meio da neve na Antártica, foi garantida pela competência do Medeiros.Eu e ele passamos toda a manhã esticando fio do interior da Estaçao Comandante Ferraz, onde havia um telefone imassat, até o ponto determinado pelo cerimonial na neve onde o presidente da República faria o seu discurso. Foi uma luta esticar tanto fio. Mas, valeu a pena. Deu tudo certo e a transmissão ao vivo aconteceu sem problemas. A Rádio Nacional de Brasília levou ao ar o discurso ao vivo e disponibilizou o áudio para as demais emissoras interessadas.
Levado por mim para o Palácio do Planalto em 1990, Medeiros – hoje já de cabelos brancos – continua até hoje na equipe de som palaciano. Emocionado ao relembrar a transmissão, Medeiros enviou no dia 23.6.2020, um whattsapp do meu celular a seguinte mensagem:
– Fomos, eu e você Tamanini, as primeiras pessoas a fazer uma transmissão de um discurso ao vivo, direto da Antártica, de um presidente da República. Usamos um telefone imassat instalado no interior da Base Comandante Ferraz. Era a única opção que tínhamos. Nunca imaginei que um dia iria puxar tanto fio na neve.Falo sempre para os meus amigos que você foi o melhor chefe que tive na minha longa carreira profissional. Obrigado por tudo”, concluiu Medeiros.
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