Quando comecei minha carreira de jornalista no Correio Braziliense, em maio de 1976, fiz amizade instantânea com dois repórteres-fotográficos: Paulo Marques , chefe do Departamento , e Tadashi Nakagomi. Dois profissionais da melhor qualidade, muito respeitados pelos colegas. Com ambos, fiz várias coberturas jornalísticas na área esportiva, onde comecei a minha carreira, no antigo estádio do Pelezão.
Por ironia do destino, dois anos depois- dia 17 de setembro de 1978 – perdia meu amigo Paulinho em acidente automobilístico no Lago Norte. Tadashi também perdeu a vida em acidente automobilístico, às 5 horas da manhã do dia 22 de fevereiro de 1987, na saída do Eixo Sul, logo depois da 316 Sul. Ambos indo para casa. Paulinho morava no Lago Norte e Tadashi no Núcleo Bandeirantes. Várias vezes deixei Tadashi em casa. Paulinho dirigia o próprio carro e Tadashi, que não sabia dirigir, seguia em um táxi que usava frequentemente.
Paulo Ribamar Alves Marques nasceu em Campina Grande no dia 25 de agosto de 1955. Iria completar 65 anos. Sua mãe, dona Maria Benedita, chamada carinhosamente desde a infância de dona Ditinha, com 90 anos, segundo os filhos, chora, com toda a razão, até hoje, a perda do filho prematuramente. Seus irmãos – Sergio Eduardo Alves Marques, ex-lutador de boxe em Brasília, trabalhou muitos anos no jornal O Globo onde chegou a exercer o cargo de chefe do Departamento Fotográfico. Luisinho (Lula Marques), que conheci de calça curta trabalhando no Arquivo do Correio Braziliense, brilhou durante anos como repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo e Alan Marques, também seguiu a profissão dos irmãos. Paulinho estava de casamento marcado com Eulália Franco, assessora do então editor-chefe do jornal, Oliveira Bastos.
Tenho uma passagem muito interessante do Paulinho. Ele era torcedor fanático do Santos de Pelé. Eu tinha dois grandes amigos que jogavam no seu time de coração: o lateral-direito Zé Maria, ex-Fluminense e Internacional de Porto Alegre, e o meio-campista Bianchi, já falecido. O Santos foi jogar em Brasília na inauguração do estádio Jornalista Augustinho Lima (outro grande amigo que perdi em acidente de carro). Paulinho foi com a delegação do Santos para o estádio. O primeiro gol do estádio foi feito em um voleio espetacular de Bianchi. Paulinho, com a sua qualidade profissional, registrou o voleio. A foto ficou lindíssima. Dias depois, Paulinho me entregou a foto ampliada com uma dedicatória para o Bianchi. Enviei para a sua casa em Santos. Ele ficou muito contente e ligou para o Paulinho para agradecer.
Outra passagem interessante com Paulinho. Ele morreu na madrugada de sábado para domingo. O Correio Braziliense fez uma ampla matéria sobre o acidente mas, por incrível que pareça, nao tinha uma foto do Paulinho. Somente fotos tiradas pelo Paulinho. Eu tinha e foi a foto publicada na edição de segunda-feira. A foto era a formação do time de futebol dos jornalistas dos Correio Braziliense em partida realizada no Clube de Imprensa. Paulinho e eu estamos lado a lado na formação do time. Outra passagem: na noite anterior ao acidente fatal, eu estava estacionando meu carro e Paulinho indo embora no seu Maverick. Lembro até hoje ele acenando. É a última imagem que tenho do meu amigo.
Logo após a sua morte, eu e meu pai mandamos confeccionar uma placa com os seguintes dizeres: Departamento Fotográfico Paulo Marques. O departamento ficava na parte de trás do antigo prédio do Correio Braziliense. Recentemente, perguntei ao Luisinho (Lula Marques) sobre o destino da placa. Ele não soube responder. Ninguém sabe o destino da placa.
Tadashi nasceu no município de Promissão, em São Paulo, no dia 10 de abril de 1947. Estaria hoje com 72 anos. Chegou em Brasília em 1965, logo depois de completar 18 anos. Não demorou muito para conhecer a mineira de Araguari Tiyoko. O casamento ocorreu no dia Em 13 de janeiro de 1971. Tiveram quatro filhos. São eles: Patricia Shizue Nakagomi, hoje com 48 anos; Paula Cristiane Nakagomi, hoje com 46 anos; Luciano Nakagomi, hoje com 45 anos e Ricardo Tadashi Nakagomi, hoje com 43 anos. Os filhos geraram 8 netos: Chrristyan, Luis Ricardo, Mayra Patricia, Adalberto Bruno, Thiago Shigema, Alícia Fernanda, Caroline Shigema e Gabriel. E os bisnetos Yasmin e Manoela.
Torcedor fanático do São Paulo, Tadashi era muito ligado aos meus pais. Tão próximo que a primeira visita que eles fizeram no terreno onde viria a ser construída a casa na QI 17 Conjunto 7 casa 20, no Lago Sul, ele estava presente. As fotos de infância mais bonitas dos meus filhos Rodrigo, Daniela e Rafael foram feitas pelo Tadashi. Ele tinha prazer em fotografar e meus filhos o adoravam.
No acidente no Zoológico de Brasilia, que acabou vitimando o sargento Silvio Hollembach, Tadashi foi o único fotógrafo que registrou o militar ainda vivo. Após ser mordido pelas ariranhas, ele foi levado para o HFA, onde meu pai era o chefe das Relações Públicas. Um batalhão de jornalistas rumou para o hospital. No meio daquela confusão, meu pai viu o Tadashi. Ele o chamou e levou até onde o sargento estava , após levar cerca de cem pontos. Horas depois do Tadashi fotografar o sargento no leito, ele veio a falecer.
Ia esquecendo. Paulinho jogava futebol no nosso time de jornalistas. Chegou até a criar o Spot Light, time composto exclusivamente de profissionais da imagem. Tadashi fotografava. Jogar bola, nada.
Aos meus amigos Paulinho e Tadashi a minha saudade eterna.
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