Amaral era um funcionário da Justiça Federal do TRF da 5ª Região, com sede em Recife e jurisdição sobre o Nordeste. Muito dedicado e educado, sempre foi designado pelos presidentes daquele Tribunal para cuidar do embarque e desembarque de autoridades locais e nacionais do Judiciário em trânsito na região, ofício no qual se especializara com esmero, a ponto de conhecer os caprichos e as mais comezinhas exigências dos homens e mulheres da toga.
Nesse trabalho, certo dia Amaral foi destacado para fazer o desembarque no Aeroporto de Guararapes e reembarcar, no dia seguinte, o então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ- Corte à qual são subordinados os TRFs -, ministro Paulo Costa Leite. Depois da reunião com os desembargadores federais em Recife, Costa Leite participou de um jantar com o presidente do TRF-5 e autoridades locais, tendo ido para o hotel tarde da noite, já prenúncio de madrugada. Sua agenda previa para a manhã seguinte novos contatos na sede do Tribunal, antes do retorno a Brasília em vôo marcado para 15 horas.
Costa Leite deitou-se para dormir e ainda deu uma lida num documento antes de pegar no sono. Começava a dormir quando ouviu uma duas batidas na porta. Achou que estava sonhando quando a batida soou mais forte e ele acordou e levantou-se, indo ainda sonolento atender à porta.
Deu de cara com Amaral, o fiel e zeloso servidor do transfer de autoridades, o mesmo que o deixara no hotel há pouco mais de uma hora.
– O que foi Amaral; o que quer a essa hora? – indagou um assustado presidente do STJ, metido em pijama.
– Desculpe, excelência, tentei o telefone mas o senhor não atendeu. Preciso das malas, excelência! As malas para o embarque, porque daqui a pouco a a aeronave vai partir. A nave.. a nave já está no pátio.
– Que nave, que nave, Amaral?!?!! – disse o ministro, incrédulo.
– Seu vôo é as 3 horas ministro, me desculpe.
– Que 3 horas que nada Amaral; meu vôo é as 3 horas da tarde e não da madrugada, caramba! – exclamou Costa Leite, àquela altura já rindo de toda confusão aprontada pelo servidor.
– Me pedôe, me perdôe, excelência… e tenha um bom sono – despediu-se um atônito e confuso Amaral, o zeloso servidor.
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