Nos idos de 1991/92, o então presidente Fernando Collor de Melo decidiu tirar uma semana de férias em Araxá, MG. O reportariado que cobria o Palácio do Planalto foi enviado pelas redações dois dias antes, para dar tempo de conhecer o terreno, o Grande Hotel de Araxá, e fazer as primeiras reportagens sobre as férias do presidente. Araxá é famosa pelo banho de lama, que teria poderes curativos.
A aventura começou já no voo. A aterrissagem no aeroporto de Uberaba foi tensa: o avião tocou a pista, levantou novamente e inclinou para o lado esquerdo, dando a impressão que iria tocar a asa na pista. Um dos fotógrafos presentes era considerado pé frio e levou a vaia dentro do avião (acho que era o Pedrosinha, mas não tenho certeza). No pátio do pequeno aeroporto, o comandante não escapou de ser apelidado, aos gritos, de Satoro Nakajima, piloto de Formula 1 conhecido como desastrado na época.
Já no Grande Hotel, começaram os problemas. Na época, telefone celular mal existia no Brasil, e as reportagens eram transmitidas via “jacaré” – um fio com dois pequenos encaixes que lembravam bocas de jacaré numa das pontas para acessar os fios da caixinha do telefone ou do bocal – isso mesmo, era preciso desmontar ou a caixinha ou abrir o bocal do telefone. E os quartos designados para as repórteres Maria Lima, de O Globo, e Flávia de Leon, da Folha, não tinham telefone, nem mesmo acesso à telefonia.
Juntas, foram à recepção pedir mudança de quarto. Seria impossível trabalhar sem acesso à linha telefônica. O único quarto disponível era uma suite dupla, com direito até a uma salinha para trabalhar. Apesar da concorrência acirrada da época, não havia alternativa e ambas foram para a suite.
Passados alguns dias, Collor já hospedado no hotel e promovendo suas corridas matinais, a ordem era acordar muito cedo. Porém, durante uma noite, Flávia acordou com um barulho no quarto. Quando abriu os olhos, um morcego imenso dava voltas próximo ao teto. Ela cobriu-se com o lençol até a cabeça, acendeu a luz da luminária de cabeceira, esperou o barulho parar e correu para o quarto de Mariazinha.
No dia seguinte, mais ou menos 6 horas, todos já sabiam da noite do morcego. O então fotógrafo da Folha Lula Marques encheu-se de coragem, pegou uma vassoura do carrinho da camareira e partiu em busca do morcego – que estava escondido na cortina. Mariazinha ficou com a câmera de Lula para registrar a façanha. No exato momento em que Lula abriu a cortina com a ajuda da vassoura para tirar o bicho, Mariazinha fez o clique, mas o flash assustou o morcego, que voou em direção ao grupo.
Muitos gritos e correria marcaram o início daquele dia, que rendeu reclamações formais de outros hóspedes que, obviamente, não gostaram de acordar tão cedo e com tanta gritaria.
** O que aconteceu com o morcego não tenho certeza: acho que foi solto pela janela, mas não lembro por quem. Talvez Mariazinha ou Lula lembrem.