Recebi o texto abaixo da minha amiga de longa data, a jornalista mineira de Juiz de Fora Mari Angela Heredia da Costa. Mari Angela trabalhou como repórter durante muitos anos em Brasília. Agora, trocou tudo pela vida pacata e tranquila de João Pessoa, na Paraíba. Vale a pena a leitura. Ao final, uma surpresa. Padre Wilson era …
A cidade mineira de Juiz de Fora é conhecida também pelos talentos que deu e dá ao Brasil na área de comunicação. Pra citar alguns exemplos – apenas de gerações próximas – temos os primos Fernando Gabeira e Leda Nagle, as saudosas Valéria Sffeir e Beatriz Thielmmann, e tantos outros que entraram para a história, como o escritor Pedro Nava e o poeta Murilo Mendes, por exemplo.
Mas entre essas gerações, nos anos 50/60 do século passado, a cidade testemunhou um verdadeiro “fenômeno” da comunicação. Mas dessa vez, por trás dos microfones, estava um fenômeno que usava batinas. Padre Wilson Valle da Costa foi um precursor da pregação pelo rádio, muito antes de o veículo ser descoberto por pastores e padres que se celebrizaram. Ele foi o campeão de audiência da rádio PRB-3, e provocava filas imensas às portas da emissora, com fieis que se aglomeravam para ter uma conversa ou receber uma benção do padre, o que levava ao desespero o operador técnico que tinha que buscá-lo diariamente para entrar no ar no horário.
Primeiro, às 18h, com a oração da Ave-Maria e depois com as radionovelas, onde fazia uma introdução resumindo o capitulo anterior antes que os radioatores iniciassem a trama do dia. O inusitado de uma radionovela escrita por um padre pode explicar um pouco do sucesso estrondoso de “Gotas de Mel em Potes de Fel”, que desbancou todos os índices de audiência das produções compradas do Rio de Janeiro e marcou a história da cidade.
Depois, Padre Wilson criou uma novela que ficou ainda mais famosa, chamada “Os inimigos do homem”, onde relatava conversas com extra-terrestres que teriam descido num disco-voador no quintal de sua casa.
A história rompeu fronteiras e levou Juiz de Fora a ser tema nacional de reportagens, inclusive na revista “O Cruzeiro” com tiragem de mais de 600 mil exemplares à época.
Padre Wilson morreu cedo, aos 44 anos e seu enterro foi outro marco da cidade, que não se repetiu até hoje. De acordo com religiosos, comunicadores e populares que viveram aquele momento, nunca se viu nada igual. O cortejo foi a pé da Catedral Metropolitana até ao cemitério municipal, e o caixão carregado ombro a ombro durante todo o trajeto, de cerca de 1,5 km. Era tanta gente nas ruas que os veículos não transitavam. Praticamente a metade de toda a população da cidade compareceu. E até hoje o seu túmulo é um dos três mais visitados, ao lado de Santa Palmira e do ex-presidente Itamar Franco.
Padre Wilson era irmão de meu saudoso pai, Gilson Valle da Costa. E, há 20 anos, em 2003, escrevi um pouco da história dele no livro “PRB-3, Meu Ouvinte, Meu Amigo”.