Do brilhante jornalista Renato Riella, baiano de nascimento e brasiliense por adoção, com que tive o prazer de trabalhar durante muitos anos no Correio Braziliense e na extinta Empresa Brasileira de Notícias (EBN). Conta Riella:
‘Estava contando pra minha filha Nara que nunca sofri preconceito. Mas aí lembrei.
Isso foi há muitas décadas. Eu era poderoso editor do Correio Braziliense: barbudão e cabeludo, com oclinhos estilo John Lennon. Vivia de calça jeans e tênis Al Star americano, comprado de contrabando.
De repente, no meio da tarde, chegou um desembargador velho, de paletó fechado, sisudo.
Na entrada da redação, pediu ajuda a um contínuo. Queria falar com o chefe da redação.
O garoto apontou para o fim do salão, onde eu me encontrava em pé, dando ordens, e disse assim ao desembargador:
-É aquele lá, o Renato!
Assustado, o ilustre visitante exclamou com firmeza:
-Não tem outro, não?
Não tinha. Era pegar ou largar!
O continuo levou o velhinho até a minha estranha pessoa. Entramos juntos na sala da redação, onde resolvi muito bem o problema dele. E acompanhei depois o desembargador até a saída. Ficou meu amigo.
Mas isso não impediu que o contínuo contasse a estranha história para uns e outros, gerando para mim o péssimo slogan:
-Não tem outro, não?
Porém, todos tiveram de me engolir durante toda a década de 80’.