Minha tia-avó, Virginia Gasparini Tamanini, poetisa, teatróloga, romancista, artista plástica., ficou reconhecida como escritora pelo livro “Karina” (1964) que também foi traduzido para o italiano. Foi, sem dúvida, uma das mais importantes escritoras nascidas no Espírito Santo. Casada com Lourenço Tamanini, irmão do meu avô Eugenio Tamanini, era uma das tias que meu saudoso pai, Waldemar Henrique Tamanini, nascido em Itarana (ES), se espelhava. Meu pai passou toda a infância e a adolescência ao seu lado, primeiro em Santa Teresa, na serra capixaba, e depois em Vitória onde residiu antes de ir morar no Rio de Janeiro.
Virgínia Gasparini Tamanini nasceu em 4 de fevereiro de 1897, na fazenda Boa Vista, no vale de Canaã, município de Santa Teresa, no Estado do Espírito Santo, filha de Epifânio Gasparini e Catarina Tamanini Gasparini, ambos nascidos na Itália e vindos, como imigrantes, pra o Brasil no século passado. Criada em fazenda, aprendeu as primeiras letras e adquiriu alguns conhecimentos equivalentes ao ensino elementar da época com professores particulares. Mais tarde, prosseguiu os estudos no Rio de Janeiro, sob a orientação de seu irmão Américo, que cursava a Faculdade Nacional de Direito, sendo que, ao final do segundo ano, interrompeu seus estudos por motivo de força maior, regressando à casa paterna.
Autodidata persistente, continuou nos seus esforços por instruir-se, “dedicando todos os momentos de lazer ao estudo e à leitura.” Desde cedo revelou inclinação para as letras, tanto que, ainda muito jovem, escreveu um romance folhetim “Amor sem Mácula” (1922/1923), publicado em capítulos semanais no jornal “O Comércio”, de Santa Leopoldina, usando o pseudônimo de Walkyria. Produziu em 1929, 1930 e 1931 peças teatrais ( Em pleno século vinte, Amor de mãe, Filhos do Brasil, O primeiro amor e Onde está Jacinto?) levadas à cena com sucesso. Membro da Arcádia Espírito-santense, tomando parte ativa na organização da Primeira Quinzena de Arte Capixaba, realizada em Vitória, em 1947. Adaptou ,encenou e dirigiu, no Teatro Carlos Gomes, a peça francesa Cristina da Suécia., em 1947.
Em 1948, montou e dirigiu outra peça francesa, Atala, a última druidesa das Gálias. Pertenceu às seguintes entidades culturais: Academia Feminina Espírito-santense de Letras, como patrona da cadeira n. 3, Associação Espírito-santense de Imprensa, sócia correspondente da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul. Recebeu o título de cidadã honorária de várias cidades capixabas, e é nome de rua em Ibiraçu-ES. Agraciada com a Ordem do Mérito Marechal José Pessoa, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, no grau de comendador. Aos 89 anos, ocupou a cadeira n. 15 da Academia Espírito-santense de Letras., cujo patrono é José Colatino do Couto Barroso.
Tia Virginia, como se referia a ela o meu saudoso pai, morreu em Vitória (ES) em 1990.