Meu velho amigo Emerson Sousa, baiano/carioca/brasiliense e um baita repórter de política na capital federal, envia uma mensagem importante e que concordo em gênero, número e grau: “Um crime irreparável cometido anos atrás, Tamana, foi a demolição do Palácio Monroe, antigo Senado quando o Rio de Janeiro era ainda capital. Prédio maravilhoso derrubado para alargar um pequeno trecho da Av. Rio Branco”.
O Palácio Monroe ficava localizado na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Abrigou o Senado Federal entre 1925 e 1960.Com 1700 metros quadrados de área construída, tinha elementos de sua composição arquitetônica que se inscrevem na linguagem geral do ecletismo, num estilo híbrido, caracterizado por uma combinação liberal de diversas origens que marcou uma época de transição na arquitetura brasileira.
Foi projetado para ser o Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, ocorrida em Saint-Louis, nos Estados Unidos da América. Conforme especificado pela Cláusula 1ª do Aviso nº 148 de 3 de julho de 1903: “Na construção do Pavilhão se terá em vista aproveitar toda a estrutura, de modo a poder-se reconstruí-lo nesta capital”.
Desse modo, o arquiteto e engenheiro militar, coronel Francisco Marcelino de Sousa Aguiar, concebeu uma estrutura metálica capaz de ser totalmente desmontada, erguendo-a, como previsto, em Saint-Louis. A imprensa norte-americana não poupou elogios à estrutura, destacando-a pela sua beleza, harmonia de linhas e qualidade do espaço. O pavilhão conquistou o principal prêmio arquitetônico da exposição.
Desmontado ao final do evento, o pavilhão foi reconstruído e reinaugurado na cidade do Rio de Janeiro em 1906, para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana. Sua fachada eclética fazia parte de um conjunto arquitetônico na Cinelândia, com os edifícios da Biblioteca Nacional, do Theatro Municipal e do Museu Nacional de Belas Artes. O Barão do Rio Branco, por sugestão de Joaquim Nabuco, propôs que, ao Palácio de Saint-Louis, como era conhecido, fosse dado o nome de Palácio Monroe, em homenagem ao ex-presidente norte-americano James Monroe, criador do pan-americanismo. Entre 1914 e 1922, o Palácio Monroe foi sede provisória da Câmara dos Deputados, enquanto o Palácio Tiradentes era construído. Com a inauguração deste, durante as comemorações do primeiro centenário da independência, o Senado Federal passou a utilizar o Monroe como sua sede. O palácio também sediou a Comissão Executiva da Exposição do Centenário da Independência do Brasil, a partir de junho de 1922. A imagem do local ilustrou cédulas de duzentos réis emitidas em 1919.
O Senado Federal esteve fechado durante o Estado Novo (1937-1945). Ao término do regime militar, serviu como sede provisória do Tribunal Superior Eleitoral, entre 1945 e 1946. Em meados da década de 1950, o Palácio sofreu uma obra de ampliação que lhe acrescentou um pavimento e ocupou o espaço das duas rotundas laterais, que eram vazias e serviam apenas como varandas decorativas. Com a mudança do Distrito Federal para Brasília, em 1960, o Monroe passou a exercer a função de escritório de representação do Senado no Rio de Janeiro.
Na época do regime militar foi transformado em sede do Estado-Maior das Forças Armadas. Em 1974, durante as obras de construção do Metrô do Rio de Janeiro, o traçado dos túneis foi desviado para não afetar as fundações do palácio. Nessa época, o governo estadual decretou o seu tombamento. Uma campanha mobilizada pelo jornal O Globo, com o apoio de arquitetos modernistas como Lúcio Costa, pediu a demolição do Palácio Monroe, sob alegações estéticas e de que o prédio atrapalhava o trânsito. O então presidente Ernesto Geisel, que também não era favorável ao edifício, sob a alegação de que prejudicava a visão do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, não concedeu o decreto federal de tombamento e, em março de 1976, o monumento foi demolido. No terreno assim desocupado, foi construída a praça Praça Mahatma Gandhi com um chafariz monumental, originalmente instalado na Praça XV.
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Recebi do meu amigo, uma pena que seja vascaíno, o sergipano Aécio Amado, um comentário sobre a demolição do Palácio Monroe, no Rio de Janeiro. Aécio atuava como repórter na época e acompanhou de perto todo o crime que fizeram contra o Palácio:
“Acompanhei a demolição lenta do Palácio Monroe. Peça por peça, ele foi perdendo a sua exuberância: os belos vitrais, os seus leões, as escadarias foram desaparecendo. Não sabemos para onde foram os equipamentos arquitetônicos que embelezavam a a histórica edificação. Aonde foram parar os vitrais e os leões? Ou seja, o que restaram do Monroe, Tamanini!