Há 43 anos, no dia 21 de julho de 1979, o meu querido amigo Renato da Cunha Valle – carioca de Copacabana – fazia o seu último jogo pelo Fluminense onde atuou como goleiro na inesquecível “Máquina” de jogar futebol que foi o clube das Laranjeiras em 1975 e 1976. A partida foi contra o Volta Redonda, no estádio Caio Martins, em Niterói, pelo Campeonato Carioca. O Fluminense perdeu de 2×1 mas Renato teve uma atuação destacada, a exemplo dos 132 jogos em que entrou em campo vestindo o manto tricolor. Disputou ao todo 21 campeonatos, sagrando-se campeão carioca de 76, do Torneio de Paris, do Torneio de Viña del Mar e da Copa Vale do Paraíba. Não recebeu nenhum cartão amarelo o vermelho desde a primeira partida em 18 de janeiro de 1976 até o última vez em 21 de julho.
Renato começou sua trajetória jogando pelo time do Ouro Preto, no posto 6 em Copacabana, naqueles tempos orientado pelo lendário Neném Prancha. Depois foi jogar no time de praia chamado “La Vai Bola”, até ser encaminhado ao Centenário de Petrópolis. Descoberto por Modesto Bria, Renato chegou nos quadros amadores do Clube de Regatas do Flamengo em 1963. Ocupando o tempo entre os estudos de Contabilidade e os compromissos com o futebol, a jovem revelação foi tocando sua vida na Gávea.
Em 1964, quando ainda atuava pelo quadro de Aspirantes, Renato passou pelo teste mais desafiador de toda a sua carreira. No dia 19 de dezembro recebeu um telefonema inesperado do funcionário Bebeto, que lhe pediu que fosse urgentemente ao clube. O técnico Flávio Costa tinha um sério problema. Marcial, o titular, estava machucado enquanto que Marco Aurélio, o reserva imediato, ainda não estava totalmente recuperado de uma contusão. Renato seria escalado para enfrentar o temido Santos de Pelé, pela decisão da Taça Brasil daquele ano. Mesmo assim, no sacrifício, Marco Aurélio entrou jogando e Renato ficou no banco de reservas. No intervalo, Marco Aurélio disse que não aguentava mais e Flávio Costa mandou Renato se aquecer.
O jogo contra o Santos estava 0x0 e o empate favorecia o time da Vila Belmiro. Em campo, Renato enfrentou seus temores e os chutes fortes do ponteiro esquerdo Pepe. Sua grande atuação garantiu o empate sem gols no placar, um resultado que não serviu para muita coisa além do Flamengo descobrir que tinha um goleiro promissor no time de Aspirantes. Foi quando o dirigente Julio Bergalo comunicou o interesse do Esporte Clube Taubaté por seu futebol. Renato respondeu que aceitaria mediante garantias que no time paulista ocuparia o posto de titular.
Mesmo diante da preocupação do pai, Renato fez suas malas e embarcou para o interior paulista. Depois da curta experiência no interior paulista, Renato voltou ao Rio de Janeiro em março de 1966, com algumas costelas quebradas. Sem muitas oportunidades no Flamengo, Renato decidiu parar com o futebol e foi trabalhar com o avô, dono de uma fábrica de fitas para máquinas de escrever e calcular. No mês de julho recebeu outro telefonema do Flamengo perguntando se ele topava ser emprestado ao Entrerriense. Renato topou e lá permaneceu até setembro de 1967, quando retornou novamente ao gramado da Gávea.
Depois de algumas partidas na equipe principal, o goleiro foi negociado com o Uberlândia Esporte Clube (MG), no início de 1969. E foi disputando o campeonato mineiro que Renato acabou despertando o interesse do Clube Atlético Mineiro, em setembro de 1970. Na época, o Atlético chegou ao título estadual contando com os goleiros Hélio e Careca. Com o comando de Telê Santana, Renato fez sua primeira partida contra o Bahia, pela Taça de Prata, no mesmo mês de setembro de 1970. Aos poucos foi se firmando como titular e no ano seguinte conseguiu seu primeiro título: Campeão da Taça Belo Horizonte em 1971.
Em 1971, Renato disputou todos os 27 compromissos do Atlético Mineiro no campeonato brasileiro e conquistou o título mais expressivo de sua carreira. Foram atuações importantes, principalmente no triangular final da competição, contra o São Paulo e o Botafogo. Em março de 1972, depois de 86 partidas defendendo o Galo mineiro, Renato foi negociado por empréstimo para o mesmo Flamengo. Enquanto isso, o goleiro da seleção uruguaia, Ladislao Mazurkiewicz, era apresentado com festa no Atlético Mineiro.
De volta ao time da Gávea, Renato foi campeão carioca de 1972, quebrando um jejum que já durava desde 1965, feito repetido no estadual de 1974. Além dos títulos no Atlético e no Flamengo, Renato recebeu o maior reconhecimento de sua carreira ao ser convocado pelo técnico Zagallo para o mundial de 1974, na Alemanha. Renato não atuou em nenhum compromisso da Copa do Mundo em que terminamos na quarta colocação. Depois do mundial da Alemanha, Renato ainda permaneceu no Flamengo até 1975, ano em que foi negociado com o Fluminense.
No tricolor das Laranjeiras, Renato fez parte do grande time montado pelo presidente Horta, conhecido como “A Máquina”, conquistando o bicampeonato estadual nas edições de 1975 e 1976. Em 1979, Renato foi negociado com o Esporte Clube Bahia, onde permaneceu até o ano de 1982, quando foi atuar no futebol dos Emirados Árabes.
Com marcas nas mãos, encerrou sua carreira profissional pouco tempo depois e carregando o sentimento de que faria tudo de novo!
Hoje, aos 78 anos, reside no município de mineiro de Uberlândia.