A história abaixo foi contada pelo brilhante repórter político Mário Nelson Duarte, carioca de nascimento, torcedor do Flamengo, e que durante muitas décadas residiu na capital da República. Atualmente, para fugir do calor, que ele tem verdadeiro pavor, Mário Nelson mora na pacata cidade serrana de Teresópolis, no Rio de Janeiro:
“Lembrei uma discussão com um vizinho, nos meus tempos de Colorado, na região montanhosa de Sobradinho.
A casa de trás ficava um metro abaixo da minha – e o dono dela achou pouco o muro que eu fiz na divisa dos lotes. E num período em que viajei, ele meteu mais uns 80 cm. em cima do muro, “para preservar sua privacidade” (porque do meu quintal se via tudo na casa dele).
O diabo é que ele simplesmente fez uma faixa adicional de alvenaria, sem qualquer reforço estrutural – e veio meter bronca, dizendo que o importante era ninguém ver a madame de tanga na piscina.
Aí tive de apelar para a objetividade de jornalista: “Essa merda vai cair. Tomara que teu filho não esteja brincando embaixo, nessa hora”.
O cara, aí (só aí!), meteu pilares de arrimo, para segurar o tal muro.
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O que isso tem a ver com as enchentes? Tudo. Porque as tragédias dos morros de Petrópolis (e do Rio) estão no roteiro, são partes dele, previstas, escritas e inexoráveis.
Quando vejo as casas encarapitadas nos barrancos (barranco vem de “barro”), não posso deixar de lembrar o muro da casa em Brasília: “Essa merda vai cair”.
Só os políticos, de olho nos votos das vítimas irresponsáveis, não vêem isso”.