Quem não teve a oportunidade de cobrir o Palácio do Planalto na época de Emerson Sousa, Carlos Zarur, Orlando Brito, o saudoso Juanito Bernardo não imagina como era divertido. Eu tive. cobri o Palácio de 1980 a 1989 quando saí da reportagem para assumir a área de imprensa do TSE (primeira eleição após 25 anos ) a convite do então presidente da Corte, ministro Francisco Rezek. Mas vamos deixar de bla, bla, bla e abrir espaço para a figuraça do Emerson, o popular “Careca” para uns e Emerson “Cabeleira” para outros. A história abaixo (como sempre) é maravilhosa. Conta “Careca”:
“No governo Geisel a Sala de Imprensa ficava no final do terceiro andar do Palácio do Planalto. Mesmo piso do gabinete presidencial. Além das mesas e máquinas de escrever a única mordomia oferecida pelo governo, que não era nada chegado a jornalista, era uma velha geladeira que para fechar bem a porta era preciso dar uma porrada com o joelho e segurar a danada por segundos para a teimosa não abrir. E o pior, com a borracha da porta ressecada o congelador passava o tempo todo descongelando e além de mijar o chão todo em voltar, também enchia com a água do degelo os copos vazios de requeijão colocados na parte de dentro da porta. Os repórteres credenciados mais antigos tinham seus copos com uma fita crepe e os nomes. Com o degelo esses copos sempre ficavam quase cheios de água gelada. Certa tarde quente de agosto em Brasília, a repórter do jornal do Pará, O Liberal, que fazia a cobertura diária do Congresso e Planalto, Lizete, atravessou a Praça dos Três Poderes e, com o sol quente,chegou morta de sede na Sala de Imprensa. Abriu a geladeira e, como sempre não tinha garrafas de água, apenas os copos da porta com água do degelo, não teve dúvida, pegou um deles e começou a beber. Ia pegando outro quando eu – de sacanagem – corri e disse: “Você tá bebendo essa água?” E completei.”Esses copos com metade de água são dos jornalistas credenciados mais velhos deixarem a dentadura de molho”. Ela deu um pulo e saiu cuspindo para vomitar no banheiro”.