Trabalhei na editoria de esportes do Correio Braziliense a partir de maio de 1976. Tive a oportunidade de conhecer na redação a colunista Talita de Abreu, a Katucha. Sempre gostei de fazer notas para colunas sociais. Não foi diferente com a Katucha. Ela sempre pedia que conseguisse algumas notas para a coluna. Não tinha muita experiência na época mas procurava ser criativo e com isso produzir notinhas, como chamamos na redação, para a Katucha.
A história abaixo foi escrita por João Vicente Costa e foi publicada na pagina Memórias de Brasilia no Facebook.
TALITA DE ABREU, nossa KATUCHA
Era 1958. Talitinha, tesoureira do IAPETEC no Rio, um dia chegou pra família e disse:
– Vou me transferir pra Brasília.
– Como é menina? Brasília nem existe. Nem pensar! Tá maluca?
– Vou. Tá decidido.
– Mas não vai mesmo!
Procurou Vitor Nunes Leal , oficial de gabinete de JK e pediu ajuda para vir à Brasília:
– Não, menina. Lá não é lugar pra uma moça como você.
JK vendo aquilo disse:
– Vai daqui a uns anos. Espera um pouco.
Alguns dias depois, estava Talita morando no acampamento do IAPETEC onde hoje, se não me engano, fica a SQS 307.
Em Brasília não existia telefone, nem luz elétrica. Para se ter ideia do fim de mundo que era isto aqui, pra matar saudades da família, com um telefonema, eram sete horas para ir até Goiânia e sete pra voltar!!! A única ligação com a civilização era um voo da VASP num avião sueco Saab Scandia esquisitão que deu alguns sustos no Brasil.
Talita veio para trabalhar num barracão das obras. Era a única mulher no acampamento com 1800 trabalhadores. Mas, segundo ela, todos a tratavam com gentileza. Virou querida por todos: Consertava as roupas dos meninos, pregava botões, fazia bolos de aniversário… uma fofura. Como todos, trabalhava dia e noite. Não tinha final de semana. Vivia coberta de poeira vermelha.
A única diversão que existia era passar uma tarde no Brasília Pálace, devidamente espanada pelo porteiro pra tirar a poeira! Acreditem.
Ali, bolou a ideia de um cinema numa salinha emprestada no Hotel. Conseguiu com amigos um projetor e filmes e criou o cinema. Daí veio a ideia de criar um clube! E foi fundadora do COTA 1000. O clube nasceu numa salinha do Brasília Pálace em reuniões de madrugada, depois do trabalho. Os sócios do cineminha viraram os primeiros sócios do clube.
Mais tarde, Talita, com todo seu conhecimento da crescente sociedade brasiliense, passou a escrever no Diário Carioca, o DC, usando o nome de Télio, e depois também no DC- Brasília usando o nome Talita.
Mais tarde, foi pro Correio Braziliense e já no exemplar número 1 do jornal e por muitos e muitos anos, manteve sua coluna social. Lá resolveu usar um nome tirado de um livro de Leon Tolstói: KATUCHA.
Bichinha poderosa, em determinado momento, além de colunista e diretora do Cota1000, tinha uma função pública no Palácio do Planalto, montou com sócias uma boutique chamada SINHÁ MOÇA, foi coordenadora de uma escolinha para candangos e ainda fundou um berçário para filhos de candangos.