No dia 10 de junho de 1991, um domingo pela manhã, após ver bem cedo na televisão o Ayrton Senna vencer de forma espetacular mais um Grande Prêmio de Fórmula Um, segui para a residência do Lourival Novaes Dantas, no Park Way, em Brasília. Todo domingo o futebol society era muito disputado. Ninguém, queria perder.
Em certo momento do jogo, driblei o “Pele”, jogador do time adversário que trabalhava em uma agência de turismo. Ao fixar o pé esquerdo no chão, senti uma forte dor no tornozelo. Gritei de dor pensando que o “Pelé” tinha dado uma porrada no meu tornozelo.
Não conseguia colocar mais o pé esquerdo no chão. Peguei meu carro, que na época não era hidramático. Tinha embreagem, freio e acelerador que eram acionados pelos dois pés. O pé esquerdo era usado naquele época para apertar a embreagem. Não conseguia. Não tinha força no pé. Foi uma luta para chegar em casa na QI 13 conjunto 01 casa 20, no Lago Sul. Precisei usar o pé direito para apertar a embreagem. A sorte é que era domingo e o trânsito era bem reduzido.
Passei o resto do dia colocando gelo no tornozelo. Imaginava que a torção era muito forte. No dia seguinte, logo cedo, Carmen, minha mulher, me levou para o Hospital da Golden Cross – hoje Hospital Brasília – no Lago Sul. Enquanto aguardava atendimento na emergência, fiquei em frente a um rapaz. Ele perguntou. O que houve com você ? Respondi: estava jogando futebol ontem (domingo) e tive uma torção muito forte no tornozelo. Não consigo nem colocar o pé esquerdo no chão.
Aproveitei para perguntar o motivo dele estar ali na emergência do Hospital. Ele levantou a camisa e disse: está vendo esse furo aqui ? Levei um tiro.
Logo em seguida, fui atendido por um médico da emergência. Ele olhou meu tornozelo e rapidamente deu um diagnóstico: “o senhor rompeu o tendão de Aquiles. Precisa operar o mais rápido possível, caso contrário o senhor não voltará a andar”.
Fiquei assustado. Nao com a operação mas porque era subsecretario de imprensa do Palácio do Planalto e como iria trabalhar. Fui para casa e liguei imediatamente para o meu amigo, o mago da ortopedia em Brasília, o gaúcho Flory Machado. Marquei uma consulta no dia seguinte no seu consultório. Chegando lá, ele apenas apalpou o meu tornozelo e em segundos disse: “operamos amanhã. Vou precisar recompor o seu tendão de Aquiles”.
Marcamos no Hospital Geral Ortopédico (HGO), na SGAS 613.
No dia seguinte, estava lá bem cedo acompanhado do meu pai, o saudoso dr Waldemar Henrique Tamanini. Ele pediu autorização ao Flory para acompanhar a operação. Precisei tomar anestesia geral. A operação, como não poderia deixar de ser, foi um sucesso. O mago Flory é um craque, nos gramados e na ortopedia.
Fiquei um dia no HGO e depois voltei para casa. Na saída do Hospital pedi ao Flory para não colocar gesso. Ele
ponderou que eu não poderia colocar de jeito nenhum o pé operado no chão. Caso contrário, iria arrebentar com os pontos e teria que operar novamente.
Disse de bate-pronto para o Flory: “o pé é meu. Não quero operar novamente de jeito nenhum”. E fiquei sem gesso. Três dias depois já estava trabalhando normalmente no segundo andar do Palácio do Planalto. Ia de carro de manhã com a Carmen ela retirava a cadeira de rodas do porta-malas do carro. Almoçava na minha sala. A comida vinha do restaurante do Palácio. Foram dois meses nessa situação.
Fiquei totalmente recuperado. Voltei a andar normalmente e até retomei o futebol na casa do Lourival aos domingos e aos sábados na casa do Adimar Schievelbein, um graduado assessor do Ministério da Fazenda, na QL 2 do Lago Norte. Até hoje, não tive nenhum problema. Como disse, Flory Machado é o mago da ortopedia na capital da República.
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