Convidado pelo então Ministro das Relações Exteriores, Francisco Rezek, coordenei todo o esquema de imprensa da visita do Papa João Paulo II ao Brasil em 1980. Montei uma equipe maravilhosa que acompanhou Sua Santidade desde a chegada em Natal até a despedida em Salvador. Muitos casos engraçados ocorreram durante o percurso. Aécio Amado, um dos integrantes da minha equipe, conta um fato ocorrido em São Luis, no Maranhão.
Conta Aécio:
” Esse episódio é real, quase realismo fantástico! E aconteceu durante a visita do papa João Paulo II à cidade de São Luís, em outubro de 1991. A visita mexeu com a rotina da cidade, sendo sua recepção acompanhada por grande número de fiéis desde o aeroporto, passando pelas principais avenidas de São Luís no Papamóvel e chegando no centro da cidade
Eu integrava a equipe de imprensa da visita do Pontífice, sob o comando de Irineu Tamanini, que me designou para a tarefa de acompanhar a imprensa, na área reservada aos jornalistas na pista do aeroporto.
Como sempre acontecia, o representante da imprensa participava dos ensaios feitos pelo pessoal da segurança, com a função de indicar o melhor local destinado aos jornalistas nos locais dos eventos. Com essa missão, fui acompanhar o ensaio no aeroporto. Lá, participei espartanamente de cada detalhe, pois tudo tinha que sair religiosamente como foi planejado e ensaiado.
Durante os ensaios, o ponto mais frisado foi o da saída do Papamóvel e comitiva do aeroporto. Ficou definido que todo o grupo sairia por um portão lateral do terminal aéreo. Por várias vezes, a segurança repetiu a saída dos carros da comitiva pelo tal portão lateral, que, em hipótese alguma, deveria no dia da chegada do papa estar bloqueado.
A grande questão era quem ficaria com a chave do portão. Ficou combinado que a chave ficaria com o vigia do aeroporto, que cuidava da área do portão. Ele foi rigorosamente orientado a não sair do local durante a chegada do papa, pois teria a função de abrir o portão quando a comitiva com o Papamóvel deixasse o aeroporto. Lembro bem dessa orientação dada ao vigia, pelo rigor da ordem do chefe da segurança.
No dia seguinte, todos estavam em seus postos duas horas antes da chegada do papa João Paulo II. Os últimos detalhes foram checados, e tudo em ordem. Eu, com os jornalistas, já sabia exatamente o que fazer. O micro-ônibus da imprensa, inclusive, estava posicionado ao final dos veículos da comitiva, logo após uma viatura dos bombeiros. O Papamóvel lá na frente, protegido por carros da segurança e batedores da Polícia Rodoviária Federal.
Na hora marcada, por volta das seis da tarde, o avião com o papa pousou. O aeroporto estava tomado, tinha gente em tudo quanto era lugar. João Paulo II desceu da aeronave, beijou o solo, acenou para o público e cumprimentou as autoridades locais. A cerimônia de chegada durou quase 30 minutos. Em seguida, ele foi para o Papamóvel. Nesse momento, eu já estava com os jornalistas no micro-ônibus.
O Papamóvel iniciou o seu deslocamento em direção ao portão de saída do aeroporto. De dentro do Papamóvel, João Paulo acenava para as pessoas, a comitiva seguia logo atrás. Minutos depois, todos os veículos da comitiva pararam. Eu pensei, aconteceu alguma coisa, pois isso não estava no ensaio! Vi vários seguranças agitados, correndo de um lado para outro e toda comitiva parada em frente ao portão, inclusive o Papamóvel, com o papa dentro. Foram quase dez minutos naquela situação. Resolvi então descer do micro-ônibus para saber o que estava acontecendo. De repente, passou um bombeiro, com uma tesoura hidráulica na mão. Ao primeiro segurança que encontrei, perguntei o qual era o problema.
Muito nervoso, ele respondeu: “O vigia! O filho da puta do vigia, que está com a chave do portão, sumiu! E não sabemos aonde ele se meteu! O desespero só acabou, quando o bombeiro, com a tesoura hidráulica, conseguiu cortar o cadeado e abrir o portão, permitindo que o Papamóvel iniciasse o seu desfile pelas ruas da bela cidade de São Luís.
Mais tarde, no hotel, encontrei o chefe da segurança e indaguei sobre o que aconteceu com o vigia. Ainda irritado, disse: O sujeito na hora da chegada do papa, em vez de ficar na guarita do portão, resolveu ir até o terraço do aeroporto, onde estava o povão, para assistir a chegada de João Paulo II e esqueceu que tinha que abrir o portão.