Essa guria Luiza Damé – dialeto gaúcho, também conhecido como “dialeto guasca” – do Rio Grande do Sul, apreciadora do bom churrasco com chimarrão, torcedora do colorado’, sempre foi uma baita repórter. Tem muitas histórias. Conte então guria:
“A campanha presidencial de 1998 foi a primeira com reeleição. A Folha de S.Paulo me escalou para cobrir o comitê do presidente Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição. O comitê ficava no Setor Comercial Norte, perto do Liberty Mall, em Brasília. Era um prédio baixo e quente. Foi uma missão dura. Os jornais estavam se adaptando à novidade de uma campanha com reeleição. A Folha procurava dar o mesmo espaço para os principais candidatos. Então as matérias sobre o candidato FHC concorriam com as das atividades do presidente FHC. Evidentemente as do presidente eram publicadas e as do candidato iam para o lixo. O momento era muito difícil: havia uma crise econômica mundial. O clima no país era tenso. Os setoristas do comitê só não sofriam mais porque os contatos com a imprensa eram feitos pelo querido Euclides Scalco e pelo saudoso Antônio Martins. Quem cobria a campanha de FHC tinha de se virar para publicar algo. Certo dia, o candidato FHC teria agenda com evangélicos, na Academia de Tênis de Brasília – que hoje nem existe mais. Logo cedo estávamos todos a postos. A antenada Denise Rothenburg teve a ideia de deixar o gravador escondido no auditório, já que o encontro seria fechado à imprensa. Pediu pilhas a uma colega que disse não ter. Então pediu para mim. Bem formada pela Folha, eu tinha pilhas extras. Colocamos no gravador da Denise e deixamos no auditório. Fiquei com o meu gravador para o caso de o presidente falar com a imprensa depois do encontro. Não satisfeitas, nos escondemos no banheiro e ficamos ouvindo o discurso. Uma segurança desconfiou da porta fechada, mas conseguimos disfarçar. Denise, subida no vaso, disse que estava com dor de barriga e já sairia. Eu fiquei muda para não perceberem que eram duas pessoas. Conseguimos ouvir o presidente falando sobre a crise econômica e muitos “aleluia”. Encerrado o encontro, FHC não deu entrevista, mas nós tínhamos o discurso. Resgatamos o gravador e fomos degravar o pronunciamento. Os colegas que cobriam o comitê, mas não compraram a ideia da Denise, foram para cima do Martins. Depois que degravamos e vendemos a matéria para as redações da Folha e do Correio Braziliense, onde a Denise está até hoje, a campanha divulgou o pronunciamento. Reza a lenda que algum colega disse que era bem feito para mim e a Denise. Que ingratidão! Se não fosse a ideia da Denise, ninguém teria o pronunciamento do presidente, que rendeu matéria”.