Emerson Souza, baiano, repórter dos mais competentes, cobriu a presidência da República para a Folha de S.Paulo durante muitos anos. É uma das figuradas mais bem humoradas que conheci na minha vida em Brasília. Conta como foi a história, Careca:
O presidente João Figueiredo iria a Foz do Iguaçu onde se encontraria com o então presidente do Paraguai, Alfredo Stroessner, para tratativas a respeito da hidrelétrica binacional de Itaipu.
Como de costume, a imprensa credenciada no Palácio do Planalto que faz a cobertura diária da presidência da República, viaja um ou dois dias antes da chegada do presidente ao evento.
No mesmo voo eu, da Folha de S. Paulo, e Silvio Leite, repórter do Correio Braziliense, fomos conversando. Ele estava na maior satisfação por ter conseguido realizar um velho desejo: ter um cão pastor alemão todo preto.
Falou do animal e sua beleza, da esperteza do filhote etc., mas destacou que o único problema que estava tendo era ensinar o animal a fazer xixi e cocô em cima de jornal que colocava perto de onde o cão dormia. Tinha tentado de tudo e nada dava certo. O filhote fazia suas necessidades onde bem entendia.
Desembarcamos em Foz do Iguaçu e fomos para o Hotel Carimã onde tinha sido feito pela presidência as reservas dos jornalistas credenciados. Como Figueiredo só chegaria no dia seguinte, o bar da piscina do hotel foi tomado pelos encarregados da cobertura.
Era manhã e aproveitei para dar um pulo na Cidade do Leste, antiga Porto Stroessner, zona franca com movimentado comércio, para comprar duas garrafas de uísque em uma importadora conhecida pela autenticidade da bebida.
Logo que voltei, Silvio Leite me vendo com a sacola da bebida, como de costume, quis pegar no meu pé.
“Tá muabando né, macho? Quando formos embarcar de volta vou entregar você à Receita”, disse com aquele sarcástico tom cearense de pura sacanagem. Fiz ouvidos de mercador, pois podia trazer até uma caixa da bebida, desde que estivesse dentro da cota legal.
Várias vezes, enquanto tomávamos cerveja na piscina ele voltou a dizer – só para encher o saco – que ia dizer na Receita que eu estava levando “contrabando”.
Quanto ele,pela quarta ou quinta vez, voltou ao assunto, me deu um estalo e travamos o seguinte diálogo:
“Pô, Silvio, lá na Zona Franca lembrei de você.”
“Por quê, macho?”
“Vi uma coisa que acaba com seus problemas com o cachorro.”
“Que foi ?”
“Um poste de material plástico branco adornado com fitas azul e vermelha em sua volta – daqueles que vemos na ópera o Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini – que é a última palavra para educação de cães.”
“Como é isso, macho?”
“Ele tem cerca de meio metro e na base uma ventosa que o prende ao chão. Grudado no poste um vasilhame, semelhante a um penico, que exala um odor atrativo aos animais que ali fazem suas necessidades. Depois, é só retirar o penico, despejar os dejeto no vaso e dar a descarga. E não é caro não. Uma beleza”.
“Onde você viu isso?”
“Em uma das lojas que entrei.”
“Mas nas loja da direita ou da esquerda da entrada da cidade?”
“Não lembro, andei dos dois lados e entrei em tantas lojas. Mas é só perguntar pelo Pipi Dog que eles sabem. O vendedor me disse que só tinha mais um em estoque, que sai muito o produto.”
“Amanhã cedo vou lá”, disse Silvio Leite.
No dia seguinte, por volta das 14 horas, toda turma na piscina porque Figueiredo só chegaria no fim da tarde, aparece Silvio Leite queimado de sol, camisa ensopada de suor e arfando de cansaço:
“Porra, macho, que sacanagem filha da puta. Entrei de loja em loja na subida e depois na descida do outro lado perguntado pela porra do pipi dog e ninguém entendia. Eu até levantava a perna como um cachorro fazendo xixi e me olhavam achando que eu era maluco. Sacanagem, perdi a manhã inteira nessa porra.”
Foi quando retruquei:
“Você não achou porque procurou por pipi dog, dog é cachorro em Inglês, então você devia ter procurado por “pay pay dog” Volta lá amanhã e pergunta em Inglês”.
A resposta veio imediata:
“Vai tomar no cu”.
“Vai me entregar ainda à Receita?”
“Porra nenhuma, nunca mais te ameaço. Estou exausto e com bolha no pé da porra desse tênis chinês que comprei ontem lá”.