Emerson Souza, baiano, repórter dos mais competentes, cobriu a presidência da República para a Folha de S.Paulo durante muitos anos. É uma das figuradas mais bem humoradas que conheci na minha vida.
Durante meses o Cerimonial da Presidência preparava a visita do presidente Figueiredo ao Rio Grande do Sul. Terra onde tinha passado grande parte de sua infância e juventude. Dentro da programação alguém inventou de ele visitar, em Alegrete, sua primeira professora: d. Mimi.
Contatos foram feitos com as filhas da velha mestra que já estava com mais de 90 anos. Se a visita de um presidente da República a algum lugar numa grande cidade já é um fuzuê danado, imagine-se na casa de alguém e numa cidade pequena no interior.
O cerimonial da Presidência contatou as filhas de d. Mimi. Elas até chegaram a ir ao Palácio do Planalto para dar seguimento às tratativas da visita.
Segundo diziam, a professora de Figueiredo estava ótima de saúde. Memória invejável. Lúcida como um menino. Quase a toda hora mencionava João -como chamava Figueiredo. Também citava seu pai, o então cel. Euclides, que serviu muitos anos na região de Alegrete.
Chegou o dia da visita. O alvoroço já começou logo no pequeno aeroporto apinhado de gente. Meninos correndo, cachorro na pista, comissão de autoridades locais postada para o receptivo, uma agitação só. Parecia que toda a cidade estava lá.
Depois de breve programação oficial na cidade, Figueiredo e comitiva se dirigiram para a casa de d. Mimi. A imprensa toda atrás.
Na porta da casa, uma pequena multidão já se formava nas duas calçadas da rua. O número grande de jornalistas obrigou o Cerimonial e a Assessoria de Imprensa do Planalto a organizarem um “pool” para a cobertura do encontro do presidente e sua primeira professora.
É que isso ocorreria no quarto onde d. Mimi repousava. O local não comportaria muita gente. Ainda mais com a presença do pessoal de tv e rádio com equipamentos. Assim, se acertou que um repórter de texto, um fotógrafo e um cinegrafista fariam a cobertura e repassariam o material e as informações para os demais.
Antes da entrada do presidente na casa o cerimonial ainda perguntou como estava d. Mimi.
As filhas, como sempre responderam:
“Mamãe está ótima. Memória invejável. Lúcida, lúcida, e quase a toda hora fala do menino João“.
Diante desse relato foi dado o sinal verde para Figueiredo, parte da comitiva e integrantes do pool de imprensa entrarem na casa e subir até o quarto da velha mestra.
Não se passaram 10 minutos e voltam todos. Silvio Leite, repórter encarregado do “pool”, foi logo rodeado por todos os colegas para ouvir o relato do encontro. Com a franqueza que lhe era peculiar, relatou:
“D. Mimi, como disseram as filhas, está lúcida, lucida, só que não lembra de porra nenhuma. Não sabe quem é João, quem foi Euclides e muito menos que foi professora. Deu um esporro geral e colocou todo mundo prá fora”.
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