Prefeito por cinco vezes do município de Itabuna, no Sul da Bahia, Fernando Gomes de Oliveira – tio do ex-presidente da Seccional da OAB baiana Dinailton de Oliveira – recebeu no final dos anos 90 com seu sorriso bonachão e gestos largos os fiscais do Ibama, que estavam ali para conferir uma denúncia de desmatamento em suas terras. A lendária Itabuna de Jorge Amado estava saindo progressivamente da histórica monocultura do cacau que fizera sua riqueza e glória no século XX. E não só por conta da praga vassoura de bruxa que dizimava a lavoura cacaueira, mas também pela propensão à pecuária e à diversificação da agricultura em suas terras férteis, até então cobertas pela rica vegetação da Mata Atântica.
Os fiscais informaram a Oliveira que estavam ali por conta de informes que chegaram ao órgão de que ele estava permitindo a derrubada indiscriminada e não autorizada de áreas nativas de mata para formação de pastos para o gado. E pior – acusavam -, tal fato estava causando muitas mortes na população do mico-leão, espécie de macaco já rara no Brasil e que, com a atividade predatória na floresta, tenderia a se encaminhar rapidamente para a extinção, o que constiui crime grave.
“Não, não; não estamos matando nico nenhum por aqui”, defendeu-se Fernando de Oliveira, que trocava o m pelo n em sua locução peculiar.
Os fiscais insistiram e observaram que, uma vez comprovada a morte de micos, isso constituía atentado inadmissível ao meio ambiente e o fato ensejaria pesada multa pelo Ibama.
Com gestos teatrais, Oliveira tentou dissuadir os fiscais da missão.
– Vejam bem, vocês não conhecem o nico de Itabuna. Ele aqui é muito querido. E é de uma agilidade incrível. Se alguma árvore onde ele está empoleirado é derrubada, muito antes dela cair ao chão ele salta imediatamente pra outra, e depois pra outra… Nico não é bobo; é bicho muito, muito esperto e sagaz – disse o prefeito, encenando com as mãos e a cabeça a esperteza do “nico”.
Os fiscais se entreolharam, perplexos. E o prefeito continuou:
– Olhem, e se por acaso algum nico por aqui fosse morto, ninguém o comeria, ninguém aqui come carne de nico – disse ele, aumentando a espanto dos interlocutores.
– Pois o que povo gosta mesmo de comer é boi – completou Oliveira, escandindo bem e dando ênfase à palavra “boi”.
Foi a senha para que os fiscais, entre incrédulos e carrancudos diante do pentaprefeito, lavrassem ali mesmo a multa do Ibama contra o notável admirador de nicos. Mas grande criador de bois. (Do meu fraternal amigo Antonio Carlos Campos, o popular Bininha)
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