Em julho de 1975 – não lembro o dia – saí de carro do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, com o meu velho amigo, vizinho e torcedor do Fluminense como eu, Augusto Pereira (mais conhecido como Biondina por ser surfista na época e usar parafina no cabelo) para ir morar em Brasilia com meus pais na 109 sul. Por coincidência, Biondina também foi residir na capital federal porque seu pai era diretor da ECT e tinha um apartamento funcional na 202 norte. Eu tinha 20 anos e o Biondina ainda não tinha completado 17 anos. O carro era um Opala Vinho que meu pai havia adquirido na Fluminauto, ao lado do restaurante Cervantes, na avenida Prado Junior, em Copacabana. Na viagem ia tudo bem até que o Opala apresentou um problema, senão me engano de superaquecimento do motor. Estávamos na rodovia que liga BH a Brasilia, há quinhentos quilômetros do nosso destino. Entramos então na primeira cidade mineira que encontramos: Felixlândia. Resolvido o problema por um mecânico da cidade (para nossa alegria ele cobrou muito barato pelo serviço porque a nossa grana era curta) e tocamos de novo para Brasília.
Quando chegamos em Brasília uma placa, no começo do Eixão, chamou a nossa atenção. Dizia: “Sr. visitante, bem-vindo. Em Brasília evitamos buzinar”. A placa não mais existe, mas o espirito continua o mesmo: é raro ouvir uma buzina de carro em Brasília. Ruas largas, vazias, ao contrário do que estávamos acostumados no Rio de Janeiro. Seguimos direto para a 202 norte. Não havia celular, não havia waze e seguimos na cara e na coragem. Deixei o Biondina em casa e rumei para a 109 sul bloco b onde o meu saudoso pai,Waldemar Henrique Tamanini residia com a minha saudosa mãe, Cely Passos Tamanini, em um apartamento funcional. Meu pai era o relações públicas do Hospital das Forças Armadas (HFA), alias um baita hospital e que anos mais tarde nasceram os meus filhos Daniela e Rafael.
Às duras penas cheguei na 109 sul. Já era noite porque ocorrera o problema com o carro em Felixlândia. Recebido com muito carinho pelos meus pais, iniciei minha longa vida profissional de jornalista na capital de todos os brasileiros. No primeiro sábado após a minha chegada à cidade chorei muito sozinho no meu quarto. Não conhecia ninguém e estava com uma saudade tremenda do Leblon, da praia, dos amigos e das “peladas” no areiao, campo de futebol de terra batida localizado no centro da praça do conjunto de prédios chamado de Selva de Pedra (havia uma novela em cartaz na época da Tv Globo com esse nome).
Foram mais de quarenta anos morando na 109 sul, 312 sul, 314 norte, 116 norte, 112 sul e por um longo período na QI 13 conjunto 01 no Lago Sul. A vida profissional começou no ano seguinte, dia 11 de maio de 1976, na editoria de esportes do Correio Braziliense com o meu amigo e primeiro chefe, jornalista José Natal.
Em 2012 eu e Carmen, que me aguenta desde 1977 com os filhos Rodrigo, Daniela e Rafael, decidimos voltar a morar no Leblon. Estamos felizes. Não nos arrependemos da corajosa decisão.