Por Sérgio Garschagen, repórter dos bons e capixaba de Cachoeiro do Itapemirim:
Finados. Palavra que significa algo que findou, terminou. Pelo menos aqui no planeta Terra. Mas, nas minhas lembranças, esta família a passear pelo Convento da Penha nunca findou. Está muito viva em minhas lembranças, exatamente como nesta foto, em que apareço, ainda criança, entre a irmã Dail e a nossa mãe, Maria de Lourdes. Depois aparece, já rapazola, os manos Don e, como se dizia antigamente, o “levado”, arteiro e terrível Carlos Fernando.
O fotógrafo era o nosso pai, que tinha um nome de nobre alemão, Carlos Frederico João Garschagen.
Éramos realmente uma família feliz. Don e Dail, pianistas, enchiam a nossa sala de amigos do velho Liceu e de boas músicas. Ela, pianista clássica; ele, popular. Nossa mãe executava também velhas canções de serestas em seu bandolim. Eu, infelizmente, só toco instrumentos de corda: cavalo e sino.
Todos já se foram para o outro lado da vida. Dail cedo, aos 26 anos de idade. Apenas Carlos Fernando e eu sobramos por aqui, um ainda a “mangar” com o outro, apesar da distância. Ele mora em Vila Velha; eu em Curitiba.
O mano Carlos me fazia chorar na infância, ao dizer que eu fôra achado, ainda bebê, no lixo de mercado municipal, a berrar, abobado, com uma folha de repolho na cabeça. Don me protegia e dizia, com ironia, que Carlos Fernando estava meio afastado do grupo, porque era um ‘enjeitadinho’.
Era assim esta família feliz. Todos a implicar com o outro sem que tenha restado qualquer mágoa a lamentar.
Velhas e nada tristes recordações de uma família feliz neste dia de finados.
Como na velha Itabira do poeta Drummond, restou apenas um retrato na parede. No nosso caso, uma antiga foto no álbum da família.