Essa história contada pelo meu velho amigo, jornalista dos bons, capixaba/brasiliense/curitibano, Sérgio Garschagen retrata muito bem a realidade do atual futebol brasileiro, pobre de craques de bola de verdade. Enganador tem muito.
Na década de 80, em viagem ao Chile, viajei em um assento ao lado de um chileno fanático pelo futebol brasileiro. Evidentemente o balípodo tomou conta da nossa conversa. Ele me fez uma pergunta objetiva: como explicar a excelência dos craques brasileiros? Pensei um pouco e chutei: disse ao meu vizinho de assento que não havia campos de treinamento de grama no Brasil e a meninada jogava bola em terrenos acidentados, onde o comportamento da bola nunca era previsível. Isso ensinava a meninada a perceber, segundos antes dos adversários, o comportamento errático da bola. O cara ficou a me olhar como um gênio que matara todas as suas dúvidas.
Hoje ( 3/12/2023 ) leio no Estadão que desde fevereiro, o Palmeiras arrancou a grama de um de seus campos no centro de treinamento das categorias de base, em Guarulhos, para transformá-lo num ‘terrão’, onde centenas de garotos jogam semanalmente. Informa o jornal:
“Em vez da grama, a terra. No lugar do terreno liso e plano, uma superfície esburacada, com armadilhas em todos os setores. Uma vez por semana, atletas mais jovens, de 10 anos a 14 anos, têm a oportunidade de treinar no campo de terra e aprimorar aspectos técnicos e mentais gerados pelas dificuldades inerentes à superfície. Fazem isso para potencializar suas agilidades e talentos individuais.”
Valeu o meu chute ao chileno! Foi o meu único gol de placa, sem nunca ter jogado futebol.
Obs: Sérgio, joguei muito nesse tipo de terreno e também no paralelepípedo na minha infância/adolescência no Rio. Sempre descalço