O meu grande amigo Paulo Bonavides, um dos maiores juristas brasileiros, comemorou no dia 10 de maio último 95 anos. Durante os mais de 10 anos em que fui assessor de imprensa do Conselho Federal da OAB – gestões de Reginaldo de Castro, Roberto Busato, Cezar Britto e Ophir Cavalcante – tive uma relação muito próxima de amizade com o Bonavides. Tenho todos (ou quase todos) livros escritos por ele com lindas dedicatórias. Estão todos guardados com muito carinho no escritório de advocacia da minha filha, Daniela Tamanini, em Brasília.
Toda vez que chegava à sede da OAB, Bonavides ia direto para a minha sala. “Cadê o siciliano? Quando me via, dizia com um largo sorriso: “você é um perigo, siciliano” perguntava ele para Valda, que trabalhou comigo desde a minha segunda passagem pelo TSE em 1993.Ele entrava na sala com a sua inseparável pasta preta e colocava em cima de uma pequena mesa localizada entre o armário e uma mini- geladeira. Logo apelidei o local de “espaço constitucional”. Bonavides dava gargalhadas quando eu dizia para ele colocar a sua pasta naquele local. Antes de começar a transitar pelos demais gabinetes, Bonavides lia os jornais do dia em uma mesa redonda instalada no meu gabinete e aproveitava para fazer contatos telefônicos, principalmente com um irmão que residia em Brasília.
Como estava “dando sopa” em plena assessoria de imprensa, não deixava nunca de fazer uma entrevista sobre algum tema em pauta. Bonavides sempre reagia. “Tamanini, você é siciliano (na verdade, a minha família é de Trento, no norte da Itália). Suas perguntas são perigosíssimas”, dizia ele com o sorriso estampado no rosto. Mas, nunca deixou de responder a qualquer pergunta.
Certa vez, eu e Bininha (o brilhante repórter capixaba Antonio Carlos Campos, o popular Bininha) fizemos uma entrevista pingue-pongue (pergunta e resposta) com o Bonavides. Ao fim da conversa, o nosso renomado jurista pediu que mostrasse a ele o texto degravado. A árdua missão de retirar o texto do gravador ficou a cargo do Bininho. No dia seguinte, entreguei as folhas de papel com o texto degravado conforme havia sido solicitado. Bonavides foi lendo e fazendo as correções. Chamei então o Bininho e a Fernanda Loureiro (outra brilhante repórter e advogada que também fez várias entrevistas com o Bonavides) e disse: “Bininho, Bonavides agora é seu copydesk (revisor de texto). O problema é que você não poderá contar para ninguém porque vão chama-lo de mentiroso”. Dito e feito: Bonavides foi copy do Bininha e ele nunca teve coragem de contar para ninguém. Acho que nem para os filhos.
Quem duvidar, ligue para o Bininha, amigo inseparável de José Casado, do jornal O Globo. Bininha, atualmente aposentado, divide o tempo entre Brasilia e a bela casa na praia em Iriri, no litoral do Espirito Santo.