O comitê de imprensa do Palácio do Planalto tinha uma geladeira velha, branca, que a porta estava com a borracha frouxa, não fechava direito e ela ia pingando o degelo chegando a fazer poça no chão. Os repórteres credenciados mais antigos tinham copos de vidro com etiquetas de papel com seus nomes. Os demais recorriam a um pequeno filtro.
A geladeira ia pingando e, aos poucos, ia enchendo os copos na parte interna da porta. Uma tarde de calor, a repórter do jornal paraense O Liberal, nova na área e chamada Lizete, vindo a pé do Congresso ao sol de agosto, tenta beber água, mas o filtro estava vazio. A sede era tanta que ela não titubeou e pegou um dos copos com metade de água do degelo.
Quando vi aquilo não perdi a oportunidade: “Você bebeu a água desses copos?” Diante da afirmativa, lasquei: “Esses copos são dos repórteres mais velhos daqui depositarem as dentaduras no fim do expediente”.
Ela correu para vomitar.
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