Assessorei o ministro Sepúlveda Pertence em duas oportunidades: como presidente do TSE e depois quando ele assumiu a presidencia do STF. Foram dois momento marcantes na minha vida de jornalista.
Acompanhava o ministro em todos os eventos, em Brasília, no restante do país e também no exterior. A história que vou contar acontecia nas viagens que ele fazia oficialmente a São Paulo.
Ele gostava de ficar hospedado no antigo Hotel Pão de Açucar, na rua Aurora, esquina com Alameda Santos, no bairro Jardim Paulista. Bem próximo, ficava localizado o tradicional restaurante Filé do Morais.
No entanto, o restaurante predileto do ministro na capital paulista era o Jardim di Napoli, na rua Martinico Prado, no bairro de Vila Buarque. O prato era sempre o mesmo, no almoço ou no jantar: polpetone de carne. Era para ele um verdadeiro manjar dos deuses. Como conhecia os garçons de longa data, o atendimento era especialíssimo. Todos gostavam muito dele.
O problema era na hora de ir embora, principalmente à noite. Pertence gostava de voltar a pé para o hotel Pão de Açucar, que ficava distante cerca de 2 quilômetros do restaurante. Eu dizia: “ministro, vamos pegar um táxi. É perigoso voltar a pé”. Ele respondia: “eu vou a pé. Você pode voltar de táxi”. Eu insistia: “como vou voltar de táxi e deixar o senhor voltar a pé nessa escuridão?” Pertence era irredutível: “vou a pé para fazer a digestão”.
Nao tinha jeito. Voltava a pé ao lado dele mas, como sou do Rio de Janeiro, andava o tempo todo olhando para trás ou para os lados. Vamos ser assaltados não vai demorar muito, pensava comigo mesmo. Quando chegava na entrada do hotel Pão de Açucar era um alívio. E vinha logo a ironia do Pertence: “eu falei que não teria problema. Você é muito medroso”, e caía na gargalhada.
Várias vezes fizemos esse trajeto mas graças a Deus nunca tivemos nenhum problema.